Na Mídia - Idoso morre após peregrinar cinco dias por hospitais municipais
O Globo / Rio
25/11/2017
Prefeito Marcelo Crivella pede um minuto de silêncio, e família diz que vai à Justiça. Secretaria e Cremerj farão sindicâncias
“Não quero um minuto de silêncio por uma pessoa que se
calou para sempre”. Assim Marijane Vinícius reagiu, ontem, a uma declaração do
prefeito Marcelo Crivella, que sugeriu a homenagem ao irmão dela, que percorreu
150 quilômetros, durante cinco dias, sem conseguir ser examinado em unidades da
rede municipal de saúde. Jordenis Benicio de Sousa, de 63 anos, morreu na
madrugada de segunda-feira. Depois de cair de uma escada, ele esteve na Unidade
de Pronto Atendimento (UPA) de Sepetiba; no Hospital Pedro II, em Santa Cruz;
no Albert Schweitzer, em Realengo; retornou ao Pedro II e acabou falecendo no
Hospital Salgado Filho, no Méier, devido a uma hemorragia digestiva. A família
fará um boletim de ocorrência numa delegacia da Zona Norte, e informou que irá
à Justiça.
— O que aconteceu foi descaso. Queremos justiça, sem fins
lucrativos. O caso do meu irmão não pode cair no esquecimento — afirmou
Marijane.
A peregrinação de Jordenis, que morava em Sepetiba, começou
no dia 15. Uma equipe do “Bom dia Brasil”, da Rede Globo, encontrou o idoso na
calçada em frente ao Albert Schweitzer, agachado e reclamando de fortes dores,
segurando uma receita para compra de analgésicos.
— Sinto dor em qualquer posição que fico — lamentou
Jordenis numa entrevista à TV.
Segundo Marijane e Ladijane Sousa (também irmã de
Jordenis), quando o idoso foi à UPA de Sepetiba, onde mora, não encontrou
funcionários na unidade. Como as dores aumentaram, seguiu para o Pedro II. Lá,
um médico recomendou que fizesse uma tomografia computadorizada, mas o hospital
não tem o equipamento. O idoso foi, então, para o Albert Schweitzer.
— Falei que tinha o pedido (da tomografia). Mas não
adianta. O médico disse que só atenderia se a pancada fosse no dia — lamentou
ele, no dia 15.
No dia seguinte, Jordenis voltou para o Pedro II, onde ficou internado. No dia 18, recebeu alta.
— Meu irmão foi avaliado
por um ortopedista e um neurologista. Fizeram exames de sangue e de raios X.
Quando chegamos lá, disseram que ele não tinha absolutamente nada e lhe deram
alta. Mas ele não reagia, não conseguia falar. Só revirava os olhos, como se
estivesse desesperado, pedindo ajuda — recordou Ladijane.
A família conseguiu manter o paciente no hospital até o dia
seguinte, quando um irmão e um sobrinho o colocaram num carro. No caminho para
a casa de Ladijane, no Méier, pararam numa farmácia para comprar remédios.
— A dor era tanta que Jordenis pediu que o colocassem na
calçada, de cócoras. Um médico que estava na farmácia viu e pediu para
examiná-lo. Ele disse “o caso é grave”. Aí, seguimos para o Salgado Filho —
contou Marijane.
A Secretaria municipal de Saúde e o Conselho Regional de
Medicina (Cremerj) abriram sindicâncias para apurar o caso.
— Enquanto não apurarmos, não posso emitir opinião. O que
posso dizer é que se trata de um absurdo o fato de o Pedro II não ter um
tomógrafo — afirmou o presidente do Cremerj, Nelson Nahon.
Crivella voltou a responsabilizar a administração passada
pela crise na saúde do município, mas considerou o caso um erro gravíssimo:
— Se não tinha tomógrafo no Pedro II, era possível fazer o exame em outra unidade. Vou investigar esse caso como se fosse minha mãe que tivesse morrido.