Na Mídia -
O Globo / Sociedade
18/11/2017
MEC vai
barrar novos cursos de Medicina
Ministro diz que suspensão por cinco anos aguarda apenas a assinatura de Temer
O MEC argumenta ainda que levou em conta dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam que o Brasil já atingiu as
metas de alunos/vagas estabelecidas, que é de cerca de 11 mil por ano. A
suspensão viria por meio de um decreto presidencial de moratória e não afetaria
os editais de abertura de cursos que já estão em andamento.
Para o ministro Mendonça Filho, os cursos de Medicina
oferecidos no Brasil tem crescido muito, porém de forma desordenada:
Essa é uma medida para que a gente possa buscar respaldo e
ter clareza sobre a abertura desses cursos, além de um planejamento de médio e
longo prazo. Hoje, é uma coisa aleatória. O Brasil tem agora mais faculdades de
Medicina que os Estados Unidos. Porém, eu não posso, como gestor público,
propor uma política indiscriminada, como se fosse uma formação qualquer.
—
CFM APOIA A MEDIDA
O decreto prevê também que, enquanto a criação de cursos
estiver suspensa, sejam realizados estudos sobre a formação médica no país, em
parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Esses estudos, segundo o
ministro, servirão para mapear os cursos existentes hoje no país e orientar
futuramente a política do MEC na criação de novos cursos.
— Formar um médico não é formar qualquer outra profissão. Um mal médico compromete a qualidade da assistência e o atendimento à população que é uma coisa muito delicada — completou o ministro da Educação.
O Conselho Federal de
Medicina (CFM) apoiou a medida, mas defendeu que a suspensão seja feita
imediatamente, paralisando também os editais em andamento.
— O MEC diz que os editais em curso vão ser cumpridos e que
depois vem a moratória, ou seja, ainda teriam mais 28 escolas para ser abertas.
Isso nós condenamos — diz Mauro de Britto Ribeiro, presidente do CFM. — Há
escolas sendo abertas em locais pequenos, que não têm infraestrutura para ter
um curso de Medicina, não têm médicos e professores suficientes para oferecer
um ensino de qualidade.
Para o médico sanitarista e professor aposentado da
Fundação Oswaldo Cruz José Gomes Temporão, o Brasil precisa ampliar as
discussões sobre saúde pública buscando soluções mais a longo prazo, e não
apenas conjunturais:
— Existe uma discussão muito grande sobre se nós temos
médicos de mais ou de menos. Há realmente projeções que apontam para a
necessidade da formação de mais profissionais. Eu diria que uma decisão sábia
nesse momento seria criar uma comissão, sem o viés corporativo, composta não
apenas pelas entidades que representam os médicos, para discutir não uma
proposta conjuntural como tem sido, mas uma proposta para os próximos 20 anos —
avalia Temporão, que foi ministro da Saúde no governo Lula.
Em nota, o Conselho
Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj)
informou que apoia a decisão do MEC, “embora tardia". Segundo o órgão, é
importante “suspender a abertura desenfreada de faculdades de Medicina, porque
isso pode resultar na má formação dos futuros médicos”.
O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP), José Otávio Costa Auler Jr. concorda. Ele avalia que não adianta
aumentar o número de médicos sendo formados, se não há qualidade nessa
formação.
— Uma maior quantidade de cursos não obrigatoriamente quer dizer uma maior capilaridade. Esses profissionais estão não apenas mal qualificados mas também concentrados — afirma o diretor da Medicina da USP.