Clipping - Indústria pede isenção de prescrição a 28 remédios
O Globo / Sociedade
17/02/2019
Medicamentos como o omeprazol ficariam acessíveis nas farmácias, sem necessidade de atendimento no balcão; Anvisa espera ter uma lista preliminar até abril para, então, debater a liberação com a sociedade civil
A indústria farmacêutica pediuque um grupo de 28 remédios
receba achancela de “isentos de prescrição médica” — categoria de medicamentos
acessíveis nas farmácias sem necessidade de atendimento no balcão — pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As solicitações incluem
substâncias destinadas ao tratamento de herpes (penciclovir), alergias
(dicloridrato de levocetirizina), inflamações (diclofenaco potássico) e gastrite
e esofagite (omeprazol e esomeprazol). Na visão dos fabricantes, esses remédios
não precisariam de prescrição por serem doenças de simples tratamento eque, ao
serem liberadas, reduziriam a demanda por serviços de saúde. AAn visa esperat
eru malista preliminar fechada até abril. Essa relação, então, será discutida
com representantes das farmacêuticas e da sociedade civil.
— O consumidor terá um maior número de produtos para li
darcom os sintomas de uma doença, o que gera ganhos para a sociedade. A cada R$
1 gasto com esses medicamentos, há uma economia de R$ 7 no sistema de saúde e
ao se evitarem faltas no trabalho — explicou Marli Sileci, vicepresidente
executiva da Associação Brasileira da Indústria dos Medicamentos Isentos de
Prescrição (Abrimip), citando um estudo da Fundação Instituto de Administração
(FIA). Segundo Sileci, liberar essas substâncias para uma venda isenta de
prescrição médica não é um estímulo à automedicação, pois há a recomendação de
procurar um médico em caso de continuidade dos sintomas. Cabe à Anvisa decidir
quais substâncias podem ou não ser comercializadas sem receita. A expectativa
da indústria farmacêutica é que, das solicitações em análise, a do omeprazol
seja liberada em breve. A agência reguladora diz fazer um esforço para se
alinhar a práticas internacionais e simplificar os pedidos de isenção. Segundo
Daniela Marreco, gerente geral de medicamentos da autarquia, desde 2016 as
próprias farmacêuticas podem fazer esse pedido. A análise da Anvisa leva em
conta critérios como o tempo de comercialização da substância, histórico de
efeitos adversos e potencial para causar vício. Daniela reconhece que é uma
questão delicada: — Usar o medicamento errado pode levar a pessoa a mascarar um
sintoma e agravar um problema.
Para Juan Carlos Thompson, diretor-geral do Instituto
Latino de Autocuidado Responsável (Ilar), entidade ligada aos fabricantes, esse
risco é mitigado pela série de protocolos seguidos para que uma substância
receba essa chancela: —O segmento dos remédios isentos é importante e tem
potencial econômico.
RISCO DE INTOXICAÇÃO
A questão inspira receio entre especialistas em segurança
do paciente. Paulo Sérgio Arrais, professor da Universidade Federal do Ceará,
cita uma pesquisa coordenada por ele e publicada em 2016, que constatou que, no
Brasil, cerca de 16% da população se automedica de maneira corriqueira. Em 65%
das vezes, com medicamentos que não precisam de receita médica: — Mesmo sendo
livre de prescrição, o remédio pode causar algum ti pode intoxicação, alergia
ou efeito adverso. Para Lucas Zambon, diretor científico do Instituto
Brasileiro para Segurança do Paciente (IBPS), a automedicação só é aceitável
para tratar de sintomas brandos e isolados: —Um sintoma recorrente, ou que se
intensifique, exige acompanhamento médico. Dados da Associação Brasileira das
Redes de Farmácia (Abrafarma) mostram que as vendas de medicamentos isentos de
prescrição totalizaram R$ 7,5 bilhões no ano passado, um crescimento de 15%,
maior que todos os outros segmentos de produtos vendidos em farmácias. Essa
cifra também já representa 16% de tudo o que é vendido nesses estabelecimentos.
“O consumidor terá um maior número de produtos para lidar
com os sintomas de uma doença, o que gera ganhos para a sociedade”Marli Sileci,
Associação Brasileira da Indústria dos Medicamentos.