Clipping - Lei dos 60 dias é cumprida para apenas 52% dos casos
Extra / Cidades
16/08/2018
Em casos cirúrgicos, índice é de só 11%. Vagas para primeira consulta caem pela metade
São 212 dias de espera. O tempo médio para início do
tratamento de câncer de mama em fase inicial no estado do Rio aumenta já que as
vagas para a primeira consulta com um oncologista caíram quase pela metade de
2016 para cá. Dados do Sistema Estadual de Regulação (SER) mostram que a Lei
dos 60 dias, que determina que o prazo máximo entre o diagnóstico e o início do
tratamento não ultrapasse dois meses, foi cumprida em apenas 52,5% dos casos de
tumores de mama atendidos pelo SUS no estado. Mas quando o primeiro tratamento
é a cirurgia, esse índice cai para 11%.
Os números fazem parte de um levantamento feito entre junho
de 2017 e junho deste ano, pela médica Sandra Gioia, vice-presidente da
Sociedade Brasileira de Mastologia Regional do Rio, que acompanhou 105 mulheres
que atendidas no Rio Imagem. E implantou na unidade, com apoio da ONG americana
Global Cancer Institute, o Programa de Navegação de Paciente (PNP). Com o
projeto-piloto, a central de diagnóstico do governo estadual passou a ter uma
assistente social que acompanha as pacientes da mamografia ao tratamento.
— Atualmente, no Rio de Janeiro, o maior gargalo para o
cumprimento da Lei dos 60 dias em câncer de mama é o déficit de vagas para
tratamento cirúrgico — conclui Sandra.
Com base em dados do SER, o levantamento mostrou que o
tempo médio entre a mamografia e a biópsia é de 67 dias; entre o laudo
histopatológico e o início do tratamento, 79 dias.
— Muitas pessoas não têm conhecimento de que isso é tempo
demais para iniciar um tratamento contra o câncer — alerta a médica.
Não foi o caso de Vera Lúcia dos Passos Cruz, de 71 anos.
Ela sabia que não poderia perder tempo. Conseguiu realizar a biópsia no Rio
Imagem no dia 4 de agosto do ano passado, um mês depois de ter passado pelo
médico, no PAM Meriti, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O laudo
positivo para câncer de mama saiu no dia 17 de agosto. Mas então veio a espera
pela cirurgia, que só foi realizada no Hospital Federal da Lagoa no dia 24 de
janeiro, 160 dias após o diagnóstico.
— Esperei meses pelo laudo do tumor. Quando saiu, o médico
disse que eu preciso fazer radioterapia. Mas ainda estou esperando — diz Vera,
que há um mês esteve no Instituto Nacional de Câncer (Inca) para a consulta
inicial de radioterapia. — Eles disseram que ligariam em até 30 dias para
iniciar o tratamento. Até agora, nada.
Casos se agravam e entram pela emergência
A oferta de consultas de primeira vez com oncologistas na
rede federal do Rio — responsável pelo tratamento de câncer — caiu cerca de 48%
de 2016 para cá, de acordo com levantamento da Defensoria Pública da União. Os
hospitais do Andaraí e de Bonsucesso, por exemplo, deixaram de ofertar vagas
para mastologia. Na fila de espera, há 93 pacientes, sendo que a primeira da
fila aguarda desde 8 de junho.
Essa demora acaba permitindo o avanço do câncer e, com
isso, casos graves chegam às emergências, passando à frente de quem está na
fila do SER. Segundo o Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde
no Rio, todos os dias, 77 pacientes com câncer ingressam nas três emergências
de porta aberta à população (Bonsucesso, Andaraí e Cardoso Fontes) e são
absorvidos pela rede federal para serem tratados. O ministério afirma que “está
chamando todos os oncologistas necessários” para reforçar o atendimento nos
seis hospitais federais entre os inscritos no processo seletivo deste ano”.