Clipping - Hospital Rocha Faria fecha a maternidade
Extra / Cidade
04/02/2018
Grávidas com contrações tiveram que pegar ônibus para buscar outras unidades
As gestantes que procuraram ontem o Hospital municipal
Rocha Faria, em Campo Grande, ficaram sem atendimento. A maternidade foi
totalmente fechada. No sábado, um médico ainda estava de plantão no setor,
apesar de não ter material para fazer partos. Ontem, nem obstetra havia. A
Secretaria municipal de Saúde informou que os profissionais pediram demissão.
Grávidas, algumas até com contrações, tiveram que pegar ônibus em busca de
outra unidade de saúde, apesar de a prefeitura informar que havia ambulâncias
disponíveis para fazer transferências.
— Estou grávida de um mês e pouco. A funcionária disse que
não pode atender porque não tem médico. Agora, preciso pegar o ônibus e
procurar uma outra maternidade. Estou com muita dor — contou Jaiane dos Santos,
de 23 anos, ao sair do Rocha Faria.
A funcionária disse que não pode atender porque não tem
médico Jaiane dos Santos Grávida
O hospital está há meses mergulhado em uma crise grave. No
fim do ano passado, o prefeito Marcelo Crivella decidiu afastar a organização
social Iabas, da administração da unidade, que passará a ser gerida pela
empresa pública municipal RioSaúde, a partir do próximo dia 12.
Com cerca de R$ 16 milhões atrasados a receber da
prefeitura, a OS deixou de oferecer exames de rotina, como ultrassonografia e
tomografia. De acordo com o Sindicato dos Médicos do Rio, o hospital enfrenta
ainda a falta de antibióticos e anticoagulantes, e os funcionários ainda não
receberam o 13° do ano passado.
Ontem, Silvana Monteiro, de 49 anos, estava no hospital com
o filho, mas não via esperança:
Ele está no soro, com muita dor. Está com suspeita de
infecção urinária, mas não consegue fazer uma tomografia aqui para confirmar.
Já foi ao Pedro II, em Santa Cruz (da rede municipal), e também não tinha o
aparelho. Voltou hoje para cá por causa da dor, mas vai ter que procurar outro
lugar.
Clínicas também perdem profissionais
Levantamento da Associação de Médicos de Família e
Comunidade do Rio (AMFaC) e do movimento Nenhum Serviço de Saúde a Menos
apontou que, entre agosto e dezembro de 2017, quase cem médicos que atuavam em
Clínicas da Família pediram desligamento de seus cargos.
— Os profissionais saem devido aos constantes atrasos de
salário, péssimas condições de trabalho, falta de materiais e de remédios —
relata Carlos Vasconcellos, diretor da AMFaC.
Um médico que prefere não se identificar diz que tem
passado dificuldades:
— Tive que pedir dinheiro emprestado aos meus pais, do contrário não teria o que comer. Faço milagre para pagar as contas.
Quase cem médicos pediram demissão entre agosto e dezembro
Os profissionais sofrem com a falta de infraestrutura das unidades. Funcionários da
Clínica da Família Alice de Jesus Rego, em Santa Cruz, são obrigados a pôr
baldes nas salas para conter as goteiras e improvisar uma “gambiarra” para
sinalizar que o ar-condicionado não está funcionando.
No Centro Municipal de Saúde Dr. Nascimento Gurgel, na
Pavuna, é só chover para que a unidade fique inundada. Atualmente, ela não
conta com vigias.