Clipping - Saúde sofre sem médicos, remédios e macas
O Globo / Rio
27/12/2017
No Albert Schweitzer, em Realengo, idosa foi carregada no colo pelo filho. No Pedro II, quartos estão sujos “Fui falar com o segurança, mas ele disse que não tinha nada aqui. Pensei: ‘dou meu jeito’” Alcides dos Santos Filho de paciente idosa do Hospital
Quem procurou unidades da Rede Municipal de Saúde nos
últimos dias conferiu de perto um retrato da precariedade. No Hospital
Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, faltam macas e cadeiras para
transportar, até a emergência, pacientes que chegam sem conseguir andar. Drama
semelhante vive o Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, onde faltam
médicos e produtos de limpeza.
Ontem, o Conselho
Regional de Medicina do Rio (Cremerj) fez vistoria em outra
unidade municipal que sofre com a crise, o Hospital Municipal Rocha Faria. O
órgão entrou com ação na Justiça contra a prefeitura, alegando situação de
calamidade na unidade.
Para entrar no Albert Schweitzer, Severina dos Santos, de
86 anos, teve que ser carregada. Com falta de ar, glicose alta, pressão
oscilando, ela não tinha forças para andar e foi levada nos ombros pelo filho
Alcides, de 51 anos. A cena triste chamava a atenção de quem estava na
emergência:
— Fui falar com o segurança quando cheguei, mas ele disse
que não tinha nada aqui. Então pensei: “dou meu jeito” — contou o comerciante
Alcides. — Trouxe minha mãe ontem (anteontem). A meu ver, não deveria ter sido
liberada. Olha a idade dela! Mas fazem nebulização e mandam embora.
Hugo Luís Torres, de 62 anos, precisou ser carregado pelos
filhos até a entrada do hospital. O homem teve um AVC há um mês e vinha se
recuperando, mas há dois dias voltou a apresentar sintomas.
— Ele começou a babar e a ficar torto e foi levado para a
UPA de Padre Miguel. Lá, aplicaram uma injeção e o liberaram. Hoje, caiu “do
nada”, e o trouxemos para cá. Mas falta muita coisa. Os profissionais não têm
culpa, atendem bem. O culpado é o governo — reclamou Nádia Ferreira, mulher de
Hugo.
No Pedro II, em Santa
Cruz, a idosa Aldina Serra, de 76 anos, precisou ser amparada pela neta Camila
Serra e pelo marido da jovem, Victor Luiz Cunha, para entrar no hospital:
— Chegamos e perguntamos se tinha cadeira (de rodas). A
menina da recepção disse para ver no corredor, mas não tinha — contou Camila.
E os problemas se sucedem. Verônica Carvalho levou o filho
Jean, de 8 anos, pela segunda vez, ao Pedro II ontem. Saíram sem atendimento,
por falta de médicos:
— Ele caiu em cima do braço. Ontem (anteontem), o médico
disse que precisaria operar, mas no Natal não tinha como. Voltei hoje e ele
disse que também não pode, pois é o único médico.
Na mesma unidade, a limpeza também é crítica e funcionários
tiram do próprio bolso dinheiro para produtos de higiene:
— No quarto do meu sobrinho, o chão está muito sujo, tem
teia de aranha, excreção na parede. Dizem que as funcionárias estão trazendo
até material de casa para limpar — disse Shirlei da Silva, que acompanhava o
sobrinho Ezequiel, de 13 anos.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, seus hospitais não
recusam pacientes. “Devido à demanda aumentada dos últimos tempos, alguns
setores podem funcionar com lotação acima da ideal, sobrecarregando maqueiros”.
Já a direção do Pedro II informa que não faltaram ortopedistas no plantão de
ontem.