Clipping - Um parecer mais preciso
O Globo / Sociedade
09/12/2017
Exame de sangue pode apontar risco de reincidência para quem já teve câncer de mama
Para mulheres que já tiveram câncer de mama, um exame de
sangue poderá apontar risco de reincidência. Com uma simples amostra de cinco
mililitros de sangue, um exame foi capaz de identificar qual o risco de uma
mulher que já teve câncer de mama sofrer da doença novamente. Um estudo
divulgado ontem em um simpósio nos Estados Unidos revelou que um teste de biópsia
líquida, que consegue rastrear células tumorais dispersas no sangue, pode ser
usado para identificar quais pacientes desse tipo de câncer têm mais
probabilidade de ter uma recaída, antes mesmo que apareçam novos nódulos ou
qualquer outro sinal.
A grande vantagem, explicam os especialistas, é ajudar a
definir quem precisa de um tratamento mais prolongado e quem pode ser poupado
de um processo desgastante e caro.
Muitas pacientes chegam a fazer terapia para tratar o
câncer de mama e prevenir a reincidência por dez anos. Durante esse período, os
possíveis efeitos colaterais são extensos: aumento do risco de ter câncer de
endométrio, trombose, aumento de peso, osteoporose e dores articulares, entre
outros. Por isso, o teste é considerado promissor ao permitir identificar
aquelas mulheres que não precisam se expor a esses riscos.
RESULTADOS PRELIMINARES
Os resultados da pesquisa ainda são preliminares, mas este
foi o maior experimento deste tipo até hoje, envolvendo 547 pacientes. Todas
elas haviam passado por cirurgia e quimioterapia, e, em seguida, trataram-se
por cinco anos com remédios bloqueadores hormonais.
Já houve um tempo em que o tratamento dessas pacientes
terminaria aí, após esses cinco anos. No entanto, hoje recomenda-se que elas
estendam o tratamento por mais cinco, completando uma década de administração
de medicamentos. Isso porque pesquisas recentes têm mostrado que aumentar o
tempo de terapia é mais seguro para parte expressiva das pacientes — mas não
para todas. O grande problema é saber para quem, exatamente. E é esta questão
que o teste promete responder.
No estudo, assim que completaram cinco anos de tratamento
hormonal, as mulheres que faziam parte da amostra selecionada se submeteram à
biopsia líquida e, a partir daí, foram acompanhadas por dois anos pelos
pesquisadores no Centro de Cuidados com Câncer de Montefiore Einstein, em Nova
York.
Entre as pacientes cuja biopsia deu negativo, a chance de
não ter recaída em dois anos foi de 98%. Já as que receberam resultado positivo
apresentaram risco 22 vezes maior de a doença voltar ou de dar metástase —
quando o tumor surge em outro órgão.
— O teste poderia fornecer
um sinal de alerta precoce para algumas mulheres de que o câncer está
retornando — diz o pesquisador líder do estudo, Joseph Sparano.
O exame, chamado de CellSearch, já é comercializado nos
Estados Unidos, mas ainda custa caro: entre US$ 600 e US$ 900 por amostra de
sangue, algo entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.
O Brasil ainda não realiza a biopsia líquida — exame que,
apesar do nome, utiliza apenas sangue, e não parte do próprio tumor. No
entanto, especialistas acreditam que ela não deve demorar a chegar ao país.
É provável que em dois anos tenhamos no Brasil essa
tecnologia, que não é tão complexa — diz o oncologista clínico Gilberto Amorim,
do Grupo Oncologia D'Or.
—
FIM DA ‘ENCRUZILHADA’
Segundo Amorim, chegar ao término dos cinco anos de
tratamento é como chegar a uma encruzilhada: os exames amplamente disponíveis
hoje não permitem saber com precisão em quais casos é melhor continuar para
evitar a possibilidade de volta do câncer.
— Infelizmente, às vezes, acabamos forçando a barra e dando
às pacientes remédios que elas podem não precisar — afirma. — Por outro lado,
se paramos a terapia e pouco tempo depois a doença retorna, ficamos com a
sensação de que não fizemos tudo o que podíamos. É uma decisão difícil, e por
isso esse teste é tão genial.
O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Antônio
Luiz Frasson, também considera que os resultados do estudo mostram um avanço
importante, mas ressalta que é necessário produzir novas pesquisas com um
número maior de pacientes e por um período mais extenso para que as conclusões
sejam validadas.