Clipping - Hospital do Fundão tem 1.200 pessoas na fila por cirurgia
Extra / Cidade
04/12/2017
Unidade agoniza com falta de insumos, medicamentos e manutenção de aparelhos
O hospital era o único do SUS no Rio a realizar a delicada
operação, que melhora equilíbrio e movimentos e reduz rigidez muscular e
tremores. A falta de recursos atinge todos os setores e interrompe atendimentos
por ausência de insumos e medicamentos e de manutenção de equipamentos. Em
ofícios enviados à Defensoria Pública da União (DPU), chefes de divisão relatam
a situação catastrófica do hospital, onde faltam até luvas.
A DPU chegou à conta de 1.200 pessoas à espera de cirurgia.
As de hérnia, bariátricas e por vídeo não estão sendo feitas. A ortopedia
operava 1.200 pacientes ao ano. Agora, são 400.
“Não estamos recebendo qualquer tipo de fratura, pois não
temos todo o material, ficando muito prejudicado o programa de residência
médica. Devemos lembrar que somos um hospital escola, e que desta forma fica
muito deficiente o ensino/aprendizado dos médicos”, alerta a chefia do Serviço
de Traumato-Ortopedia.
Pacientes contam com a sorte e o empenho das equipes.
Ângela Célia da Silva, de 67 anos, moradora de Nova Iguaçu que, em maio, foi
operada de um câncer no pâncreas, já chegou ao hospital e não conseguiu fazer a
quimioterapia marcada:
— Tive que ir à ouvidoria. Ligaram de volta e fiz a sessão
na semana passada. É muito ruim tudo isso. Moro longe e tenho dificuldades para
andar. Não consigo vir de ônibus. Fico sempre na expectativa se vai ter ou não
a sessão.
A divisão médica destaca que, devido à falta de
quimioterápicos e insumos e às paralisações frequentes de aparelhos,
tratamentos oncológicos têm sido adiados e até interrompidos. A falta de
material também vem paralisando exames de tomografia, mamografia, ressonância
magnética, radiografias e procedimentos hemodinâmicos”.
Cenário de abandono
Na dermatologia, os
ambulatórios são classificados como “insalubres” pela sua própria equipe. No
setor, cirurgias estão suspensas por causa de vazamento nas salas. Na quinta
passada, só dois dos 16 elevadores do prédio, de 13 andares, funcionava, e de
modo precário. De manhã, um paciente aguardava o elevador enquanto o maqueiro
esmurrava a porta e gritava, porque o botão para chamar o equipamento estava
quebrado.
No 11° andar, um
enfermaria inteira está desativada. Há paredes e pias quebradas, sujeira, fios
expostos e 50 macas largadas em frente aos elevadores. O exdiretor diz que há
19 leitos de CTI prontos para serem usados, assim como 40 leitos de enfermaria
novos, mas vazios. Nas suas contas, seriam necessários mais 280 profissionais para
colocá-los para funcionar.
Ação contra a UFRJ
O defensor Daniel Macedo,
da DPU, promete entrar com uma ação civil pública que terá como réus o
Ministério da Educação e a UFRJ.
— Os hospitais universitários recebem pela tabela do SUS: quanto maior for a produção cirúrgica, mais são remunerados. Mas, para haver produção, é preciso insumos, medicamentos e organização, além de uma gestão qualificada. E o Hospital do Fundão não tem nada disso — afirma o defensor. — Enquanto isso, as pessoas estão morrendo sem atendimento adequado.