Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
14 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 De forma resumida, ao invadir o orga- nismo humano, um agente infeccioso – que geralmente contém vários antígenos – é inicialmente reconhecido pelo sistema imune inato como estranho ou invasor. Em sequência, se desenvolve a resposta imune adquirida primária, que envolve a produção de anticorpos e de células de memória. As células de memória, em um futuro contato com o mesmo agente infec- cioso, são capazes de rapidamente voltar a produzir anticorpos específicos (resposta imunológica secundária) contra o invasor. PRESUNÇÃO DA ETIOLOGIA DE UM PROCESSO INFECCIOSO Apresunção do diagnóstico de umdeter- minado processo infeccioso deve ter como base fundamental as evidências clínicas e epidemiológicas. É fundamental avaliar cuidadosamente se houve uma possível exposição a um agente específico (oportu- nidade de infecção) e se o tempo decorrido entre a aquisição da infecção e o desen- volvimento das manifestações clínicas de doença (período de incubação) é compatível com determinada suspeita diagnóstica. Amaioria dos erros de diagnóstico pode ser evitada pela obtenção cuidadosa da história (clínica e epidemiológica) e do exa- me físico. Doenças que têm apresentações clínicas iniciais indistinguíveis podem ser presumidas pela história epidemiológica (febre amarela, malária, leptospirose, han- tavirose). As sepses, que também podem ter apresentação semelhante, geralmente têm uma porta de entrada detectável. Elementos de convicção diagnóstica A descrição das manifestações clí- nicas (ou laboratoriais) de uma doença infecciosa inclui os eventos que podem ocorrer durante a evolução, mas que não necessariamente vão estar presentes em todas as pessoas acometidas. Em vez de memorizar a descrição da doença, procu- re identificar os elementos de convicção básicos (história clínica/epidemiológica e exame físico) que tornem obrigatória a sua inclusão como hipótese diagnóstica a ser investigada. Em outras palavras, iden- tifique os dados que caracteristicamente estejam presentes em todos os casos de uma determinada doença infecciosa. Assim, por exemplo, em toda doença febril aguda deve sempre ser considerada a oportunidade de infecção para malária. A presença de baço palpável é comum na malária, grave ou não. Logo, a presença ou a ausência de baço palpável não é um elemento de convicção que define, per si , a inclusão da malária como uma possi- bilidade diagnóstica a ser investigada, uma vez que a esplenomegalia pode ou não ser detectada. De modo semelhante, a icterícia também é um evento comum (mesmo nas formas não graves). Portanto, também não é um elemento de convicção para a suspeição diagnóstica de malária. Além disso, a presença de baço palpável
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