Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
12 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 suscetível (baratas e moscas podem trans- portar Salmonella typhi) ou biológicos, comumente artrópodes (como os insetos hematófagos), neles ocorrendo, obrigatoria- mente, parte do ciclo de desenvolvimento dos agentes infecciosos, tal como ocorre na malária, febre amarela, dengue e doença de Chagas . Alguns agentes infecciosos são encontrados no ambiente, de forma disse- minada ou em áreas geográficas restritas. As infecções por estes agentes podem ser adquiridas pelo indivíduo suscetível em exposições ocasionais, como ocorre no té- tano (contaminação dos ferimentos com o Clostridium tetani) e em algumas infecções fúngicas (inoculação pela pele ou inalação). Um mesmo agente infeccioso pode ser transmitido por mais de uma via, como é o caso, por exemplo, da raiva e do antraz. Em geral, a raiva é transmitida pelo contato direto com animal infectado (mordedura, arranhadura e lambedura de mucosas), mas também pode ser adquirida pela via respiratória emcavernas habitadas por mor- cegos infectados. O antraz que geralmente é adquirido através do contato direto com tecidos ou produtos de animais infectados pode, eventualmente, ser transmitido atra- vés da inalação de partículas aéreas, como foi utilizado para a prática de bioterrorismo. Mecanismos de defesa Os seres humanos são dotados de me- canismos de defesa que dificultam a pe- netração, a implantação e a multiplicação de agentes infecciosos. Em essência, es- tes mecanismos se dividem em inatos e adquiridos. A primeira linha de defesa é conferida pelo sistema imune inato, her- dado geneticamente dos progenitores e presente ao nascimento. (16) Esse sistema se distingue pela capacidade de resposta rápida e inclui componentes diretamente relacionados ao hospedeiro, como barreiras físicas, diversos tipos celulares, receptores, sensores e citocinas, e aqueles associados ao microbioma humano. A barreira mais externa do sistema inato é de natureza físico-química, sendo representada pela pele e mucosas íntegras, pela ação de enzimas presentes na saliva, na lágrima e nas secreções nasais, pela acidez gástrica e urinária, entre outros mecanismos. Quando um agente infeccioso consegue vencer estes obstáculos iniciais, terá de enfrentar uma segunda barreira, que corresponde a um conjunto de células (neutrófilos e macrófagos) e substâncias liberadas por células (interferons e cito- cinas). As células do sistema imune inato são dotadas de receptores capazes de re- conhecer padrões moleculares associados a patógenos em geral (PAMPs, do inglês pathogen-associated molecular patterns ), o que resulta em resposta protetora indi- ferenciada. (17) Interessante que os mecanismos desen- cadeados para o reconhecimento e destrui- ção de microrganismos patogênicos e que dão início à resposta inflamatória também eliminam células humanas infectadas e
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