Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
90 Ascaridíase biliar maciça como etiologia incomum de pancreatite aguda. Relato de caso Roberth Andres Hidrovo Giler et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.83-92, mai-ago 2024 A transmissão dá-se por via fecal-oral, com a ingestão de ovos de parasitas, presentes em alimentos contaminados com fezes que contêm esses ovos. (3) O hábitat natural dos áscaris em huma- nos é o jejuno, mas quando há grande carga de formas adultas podem ter uma migra- ção errática, com propensão a explorar os orifícios. Frequentemente essa migração errática segue em direção às vias biliares, vesícula biliar e ducto pancreático, a partir do duodeno, através da ampola de Vater, podendo causar obstrução dessas estru- turas, manifestando-se como cólica biliar, colecistite acalculosa, colangite aguda, pancreatite aguda e abscesso hepático. (4) Em relação à pancreatite aguda por A. lumbricoides, poucos estudos foram pu- blicados. Assim, em 1992, Khuroo et al., na Índia, relataram na população geral uma incidência de 23% de PA por esse hel- minto entre 256 pacientes estudados. (6) Em 1994, Chen D y Li X, na China, reportaram 42 casos de PA por áscaris, a maioria em mulheres adultas jovens. (7) Em relação às crianças, Aké-Castillo et al., no México, relataram, em 1995, 12 casos de PA, em que 5 dos casos (60%) estavam associados à obs- trução intestinal e migração errática de A. lumbricoides. (8) Em 2008, Quintero-Victoria et al., na Venezuela, relataram 18 casos de PA em crianças, dos quais 8 correspondiam à pancreatite ascaridiana. (9) Do ponto de vista fisiopatológico e clí- nico, a pancreatite ascaridiana não difere de outras causas obstrutivas. A história epidemiológica, as más condições de sa- neamento, o baixo nível socioeconômico, o histórico de expulsão de vermes pela boca e ânus em paciente com dor abdominal e vômitos orientam o diagnóstico de PA de etiologia ascaridiana. (5) A ultrassonogra- fia abdominal é o método de escolha para confirmar o diagnóstico, pois possibilita a identificação do parasita nas vias biliares e pancreáticas. Atualmente, a endoscopia nos permitirá avaliar melhor o pâncreas, bem como as vias biliares intra / extra- -hepáticas. (10) Em relação ao tratamento da pancreatite por áscaris, além do manejo inicial que consiste em hidratação adequada, restrição oral e manejo analgésico, deve-se proceder a extração do helminto, pois os parasitas que estão dentro da via biliar não morrem com anti-helmínticos administrados por via oral, uma vez que o seu efeito é muito limitado ou ausente a nível biliar. Ante- riormente, na maioria dos casos a extração era cirúrgica, consistindo na realização de colecistectomia mais exploração da via biliar com remoção cirúrgica do áscaris. Atualmente, a remoção endoscópica de parasitas do duodeno através da ampola de Vater por meio de endoscopia digestiva alta e/ou CPRE é o tratamento de escolha. (5) No caso apresentado, uma vez confirma- do o diagnóstico de pancreatite aguda foi iniciado o correspondente suporte clínico que qualquer tipo de PA requer: adequada hidratação venosa, restrição oral, anal- gesia e controle laboratorial. Apesar de o
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