Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
22 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 é extremamente simples, de baixo custo, rápido e produz informações úteis e con- fiáveis. Consequentemente, a realização imediata do Gram poderia contribuir para a escolha correta do tratamento, redução de custos e diminuição do impacto para a população resultante do uso inadequado de antibióticos, não somente no contexto hospitalar, mas também no ambulatorial. O Streptococcus pneumoniae (cocos Gram-positivos dispostos predominan- temente em pares) persiste como o prin- cipal agente etiológico das pneumonias agudas comunitárias (PAC), embora um certo declínio tenha sido observado com a introdução e uso sistemático de vacinas antipneumocócicas conjugadas. O segun- do agente mais comum é o Haemophilus influenzae (coco-bacilos Gram-negativos), seguido por Staphylococcus aureus (co- cos Gram-positivos dispostos em cachos) e enterobactérias (bacilos Gram-negati- vos). (33) Com o uso progressivo de testes moleculares, tem sido possível estabele- cer a participação viral na etiologia das pneumonias e a ocorrência de coinfecção viral-bacteriana. Trato urinário Os rins, os ureteres, a bexiga e a porção proximal da uretra, até bem recentemente eram considerados isentos de microrganis- mos. Entretanto, à semelhança do que foi demonstrado no trato respiratório inferior, as evidências obtidas com a utilização de técnicas moleculares (como o sequencia- mento do gene 16S rRNA) e técnicas apri- moradas de cultivo microbiológico, apontam para a existência de umamicrobiota urinária própria na bexiga. (34) Diante deste achado, a explicação para a gênese das infecções do trato urinário parece não se resumir à invasão de um espaço estéril por um mi- crorganismo proveniente da uretra ante- rior, mas possivelmente reflita um estado de desbalanço do ecossistema microbiano urinário. Estudos adicionais são necessários para estabelecer o papel do microbioma na patobiologia da infecção do trato urinário. Reconhecidamente, a porção distal da uretra (ou uretra anterior) possui uma nu- merosa microbiota residente. (35) Durante a micção espontânea, a passagem pela uretra anterior contribui para a contaminação substancial da urina. Para minimizar essa contaminação durante a coleta da urina para cultivo microbiológico, o primeiro jato de urina deve ser desprezado, utilizando-se o segundo jato, também referenciado como intermediário ou médio. A prática de higienização da genitália antecedendo a coleta da urina por micção espontânea é bastante difundida. Contu- do, não há evidências científicas de que a higienização da genitália (feminina in- clusive) reduza a contaminação. Ademais, o procedimento pode, particularmente na presença de sintomas, estimular a micção imediata, o que dificulta a coleta quando é utilizada a primeira urina da manhã e a bexiga está repleta. Se a opção for realizar
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