Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
18 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 e grave (comprometimento de planos pro- fundos como fáscia e estruturas musculo- tendinosas e, por vezes, necrosante). A pele é dotada de numerosa micro- biota residente. Comumente, as infecções cutâneas primárias são causadas por mi- crorganismos presentes na microbiota da pele, de forma permanente ou transitória, com destaque ao Staphylococcus aureus (foliculite, furúnculo, celulite) e o Strepto- coccus pyogenes (impetigo, erisipela). As infecções cutâneas secundárias são pro- cessos infecciosos associados a condições preexistentes que funcionam como porta de entrada, frequentemente são de natureza polimicrobiana (aeróbios e anaeróbios) e atingem tecido subcutâneo, como é o caso das infecções que se instalam na úlcera neuropática do pé diabético e na escara de decúbito. (25) Em cenários extremos, como nas infecções necrosantes rapidamente progressivas, é comum que o Streptococcus pyogenes esteja envolvido, eventualmente Staphylococcus aureus ou Klebsiella pneu- moniae , em associação com espécies anaeró- bicas. A despeito de geralmente decorrerem de ação traumática, a fasciíte necrosante pode se instalar sem trauma evidente. De uma forma geral, no contexto das infecções de pele e subcutâneo não com- plicadas, passíveis de tratamento ambula- torial, as culturas não são rotineiramente recomendadas. (25,26,27) Nos casos típicos de erisipelas e celulites, o rendimento de as- pirados teciduais é baixo, variando de 5% a 20%, não justificando a coleta de materiais para isolamento. Contudo, ainda que se tra- te de furunculose, quando é maior a possi- bilidade de envolvimento de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) , a cultura poderá ser útil no direcionamento terapêutico. Nas infecções que requerem drena- gem, é importante coletar material para cultura e viabilizar a realização do teste de sensibilidade aos antimicrobianos. O mesmo se aplica em quadros mais graves com repercussão sistêmica ou nos quadros infecciosos que acometem indivíduos imu- nossuprimidos ou neutropênicos, cenários que justificam, alémda coleta de material do local da infecção, amostras de hemoculturas. Em razão da numerosa microbiota cutâ- nea, a coleta de material superficial ( swab , raspado) de lesões abertas nas quais podem estar envolvidos agentes que fazem parte da microbiota residente (de forma transitória ou permanente), em geral, tem pouca ou nenhuma utilidade. Em material obtido de lesões abertas como úlceras de decúbito e pé diabéti- co, quase que sistematicamente ocorre o crescimento, isolado ou em associação, de bactérias como Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Proteus sp., Pseudomonas sp. e anaeró- bios, sem que seja possível determinar a real participação patogênica de cada uma no contexto clínico. Na abordagem dessas lesões, o recomendável é realizar o desbri- damento das camadas superficiais (geral- mente um macerado de células mortas e
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