Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

16 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 tiver ocorrido e não houver possibilidade clínica de interrupção do esquema, isso não deverá impedir a realização de culturas ou de outros exames que estejam indicados. Nestas circunstâncias é fundamental que a equipe do laboratório de microbiologia esteja ciente dos medicamentos em uso, de forma a adotar metodologias alternati- vas para minimizar o efeito negativo dos antimicrobianos sobre o rendimento das técnicas de isolamento em cultivo. De uma forma quase que intuitiva, a amostra biológica que melhor deverá se relacionar com um determinado processo infeccioso será aquela obtida diretamente do local predominantemente acometido ou produzida a partir dele. Isso porque, o espe- rado é que o material biológico proveniente do foco primário contenha o agente infec- tante emmaior número, tornando mais fácil demonstrar sua presença, seja por método direto ou por cultivo. (22,23) Contudo, ainda que correta para a maioria das situações, a correlação nem sempre se aplica e, algumas vezes, é importante conhecer as caracte- rísticas peculiares do agente presumido. É difícil, por exemplo, demonstrar ou isolar Legionella spp. através do escarro, mas o diagnóstico de pneumonia por Legionella spp. pode ser realizado com relativa facili- dade pela detecção de antígeno específico na urina. (24) Outro aspecto relevante é a facilidade (ou não) de obter o material po- tencialmente elegível, visto que poderão ser necessários procedimentos invasivos, com riscos inerentes e nem sempre justificáveis. As dúvidas em relação aos procedimen- tos corretos para a coleta, volume adequa- do a ser obtido, conservação e transporte de material biológico para o laboratório devem ser esclarecidas antecipadamente. É importante evitar erros (comuns) como “esquecer” por horas no balcão do posto de enfermagem amostras de urina colhida por micção espontânea, pois a intensa pro- liferação bacteriana tornará impossível a interpretação do resultado. Por outro lado, não se deve refrigerar frascos contendo líquidos serosos (cefalorraquidiano; si- novial) ou hemoculturas após inoculação, dado que o resfriamento poderá inibir a multiplicação bacteriana. (3) Adicionalmente, a refrigeração de materiais ( swab uretral, aspirados) destinados a culturas para Neis- seria gonorrhoeae praticamente inviabiliza o isolamento em cultura, em decorrência da perda de viabilidade bacteriana. É desejável que instruções para coletas diferenciadas estejam facilmente acessíveis. Além disso, é essencial que o médico envie para o laboratório as informações clínicas pertinentes junto ao material a ser pro- cessado. Cabe ao laboratório informar ao clínico os resultados dos exames tão logo disponíveis, mesmo quando iniciais ou parciais. O conhecimento das caracterís- ticas morfotintoriais de uma bactéria (co- cos Gram-positivos agrupados em cachos, bastonetes Gram-negativos etc.) isolada em hemocultura pode ser extremamente importante para a condução de um caso de uma pessoa com sepse ou endocardite,

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