Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

9 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Amicrobiota humana é essencial à vida e desempenha funções importantes na di- gestão de alimentos e produção de fatores nutricionais e constitui um importante mecanismo de defesa na proteção contra a invasão por agentes infecciosos. (4,5,6) A despeito de toda relevância na manutenção da homeostase, na microbiota também es- tão presentes micróbios que podem atuar como oportunistas, tipicamente colonizando o hospedeiro humano sem causar dano, mas com capacidade potencial de causar infecção e doença em contexto de imunos- supressão ou secundariamente às rupturas dos mecanismos de defesa, ou seja, podem atuar como patógenos secundários. A colonização resulta no estabelecimento de diferentes comunidades microbianas em áreas corporais diversas, primariamente nas superfícies (internas e externas), incluindo o trato gastrointestinal, a pele, a mucosa oral, a mucosa genital e a conjuntiva. (5,11,12) No trato gastrointestinal, a imensa maioria das bactérias comensais reside no cólon (10 14 ). A concentração bacteriana no estômago, duodeno e jejuno proximal é substancial- mente menor (10 3 –10 4 ). Em paralelo, a pele também é intensamente colonizada (10 12 ). Alguns sítios corporais, em condições habituais, são praticamente destituídos de microbiota residente (sangue, líquido ce- falorraquidiano, líquido pleural, líquido sinovial, tecido celular subcutâneo etc.). É importante destacar que algumas áreas, ainda que habitualmente estéreis, têmcomu- nicação com locais que possuem abundante microbiota residente. (12,13) Assim, o trato urinário é praticamente isento demicrobiota em quase toda sua extensão, mas a urina coletada espontaneamente recebe bactérias durante a passagem pela uretra anterior. O significado clínico do isolamento em cultura de microrganismos que fazem par- te, transitória ou permanentemente, da microbiota residente, observados os cuida- dos de coleta, depende de onde o material foi obtido. Assim, enquanto o isolamento do Staphylococcus aureus em culturas de sangue (que é habitualmente estéril) de um paciente com endocardite provavelmente significa a determinação da etiologia, o crescimento da mesma bactéria emmaterial superficial proveniente de uma lesão de pele (onde existe abundante microbiota), como uma escara de decúbito, não pode ser tomada como expressão da absoluta parti- cipação do agente no processo infeccioso. O isolamento de um agente que habi- tualmente não faz parte da microbiota, como o Streptococcus pyogenes , em geral, tem significado clínico mesmo quando o material foi obtido de locais como a orofa- ringe, que possui uma exuberante coloni- zação bacteriana . Os microrganismos que usualmente não fazem parte da microbiota residente, porém podem causar infecções, são denominados patógenos primários. Agentes infecciosos, infecções e doenças A interação inicial de ummicrorganis- mo com as células humanas pode resultar

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