Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

60 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 da imunodeficiência. Além disso, também possibilita a exclusão de candidatos oriun- dos de áreas de transmissão de malária ou da doença de Chagas. Em outras palavras, a triagem clínica permite reduzir a proba- bilidade pré-teste (prevalência) de infec- ções na população de doadores. Apenas os considerados aptos pela triagem clínica são submetidos aos testes sorológicos, visando a detecção de infecções assintomáticas, o que aumenta os valores preditivos dos exames não reativos. A prática (relativamente comum) de oferecer aos doadores resultados dos tes- tes de triagem como "recompensa" para a doação deve ser desestimulada por motivos óbvios, entre os quais o de atrair ummaior número de indivíduos que se reconhecem sob risco, numa perversão completa do que se entende por autoexclusão. Ou seja, esse tipo de campanha resulta em aumento da prevalência de infecções entre os doadores e, portanto, reduz os valores preditivos dos exames não reativos, o que, necessa- riamente, eleva o risco de transmissão de infecções transfusionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os desafios emergentes de um ambiente em rápida e constante mudança, os avanços conceituais na nossa compreensão da viru- lênciamicrobiana e o desenvolvimento revo- lucionário de ferramentas técnicas de inves- tigação diagnóstica apontam para variados cenários e estratégias futuras. Caminhamos para a identificação e caracterização rápida de patógenos diretamente de amostras clí- nicas e hospedeiros infectados, utilizando abordagens independentes do isolamento em cultivo. A manipulação e a caracterização de todo o genoma de células bacterianas individuais e a identificação de patógenos baseada em sequenciamento profundo a partir de amostras clínicas já são realidades. Progressivamente somos capazes de medir a abundância de transcritos microbianos e a atividade metabólica em todo o genoma diretamente de espécimes humanos também. Adicionalmente, a composição e a função das comunidades microbianas podem ser avaliadas utilizando tecnologias de meta- genômica e pós-genômica. Paralelamente, cada vez mais passamos a compreender a importância da variação genética do hospe- deiro na suscetibilidade diferencial à infec- ção e a doenças subsequentes. Ademais, as tecnologias genômicas e pós-genômicas nos permitem medir e interpretar padrões de expressão gênica e proteica humana asso- ciados com a resposta a doenças infecciosas. Por fim, é fundamental compreender que, a despeito de todo avanço tecnológico, é necessário preservar a racionalidade e uti- lizar de forma oportuna e inteligente as no- vas tecnologias diagnósticas em harmonia com os valiosos recursos da microbiologia clássica. Igualmente relevante: é imperativo assegurar a interpretação cuidadosa de resultados de testes em diferentes cenários clínicos, de forma a efetivamente otimizar o cuidado ao paciente.

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