Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
41 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. ainda ocorrer falha na discriminação de caracteres morfotintoriais e um cocobacilo ser descrito como “coco” ou como “bacilo”, além da possibilidade de confundir grãos ou acúmulo de corantes com bactérias. Ziehl-Neelsen A técnica de Ziehl-Neelsen é utilizada para identificação de bactérias que pos- suem um elevado teor lipídico em suas pa- redes celulares, como as espécies do gênero Mycobacterium, Nocardia e Rhodococcus , e que, em geral, coram-se de forma insatis- fatória pelo Gram (“ imagens fantasmas ”). Na técnica de Ziehl-Neelsen, a carbo- xifucsina (cor avermelhada) é o corante primário. O calor facilita a penetração deste corante pela parede celular bac- teriana. Na etapa seguinte, procede-se à descoloração com a solução álcool-ácida e finaliza-se utilizando o azul de metileno como contraste. As bactérias que resistem à descoloração álcool-ácida (em razão disto, conhecidas como álcool-ácido resistentes) preservam a coloração vermelha, contras- tando com o azul dos outros componentes da amostra analisada. O Ziehl-Neelsen pode ser empregado com sucesso em diversos tipos de amos- tras biológicas (escarro, LCR, líquido pleural, lavado gástrico etc.). Entretanto, não é útil na confirmação do diagnósti- co da tuberculose genital, uma vez que não permite a diferenciação morfotinto- rial entre o Mycobacterium tuberculosis e micobactérias saprófitas presentes no microbiota residente. Em amostras teciduais (fragmentos ob- tidos por biópsia) é preferível a utilização da técnica de Kinyoun, que é uma modi- ficação do Ziehl-Neelsen. No Kinyoun, não se utiliza o calor (que pode promover distorções histológicas) e, alternativamente, emprega-se uma solução mais concentrada de carboxifucsina, daí a denominação de “Ziehl-Neelsen a frio”. Com pequenas alte- rações na técnica original (“Ziehl-Neelsen modificado”) é ainda possível demonstrar microrganismos como Cryptosporidium spp. em amostras fecais. Em função do grande número de casos de tuberculose pulmonar em todo mundo, a técnica é amplamente utilizada para pes- quisa de Mycobacterium tuberculosis no escarro, o que tem relevância na investi- gação de casos suspeitos e no controle de resposta à terapêutica de casos previamente diagnosticados. A capacidade de detecção depende do inóculo presente na amostra, que geralmente é positiva quando presentes mais de 5.000 bacilos/mL. Nenhuma amos- tra deverá ser considerada negativa sem que, no mínimo, 300 campos no aumento de 1000x (imersão) tenham sido cuidado- samente avaliados. Adicionalmente, para considerar como não significativo o risco de um indivíduo com sintomas respiratórios ser um transmissor potencial (bacilífero) é recomendável que sejam coletadas três amostras de escarro espontâneo, preferen- cialmente matinais, em dias consecutivos
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