Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
32 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Se o risco presumido para a punção lombar é alto ou o tempo estimado para a realização do procedimento é demasiada- mente longo, a primeira dose do antibiótico deve ser administrada e a punção lombar deverá ser feita a posteriori , caso as con- dições permitam. A despeito da esperada redução de positividade da cultura, ainda será possível realizar o Gram, a pesquisa de antígenos e, notadamente mais sensíveis, os testes moleculares. (49) É recomendável ainda, neste contexto de extrema gravida- de, obter paralelamente hemoculturas (no mínimo duas), para aumentar as chances de isolamento do agente (a bacteremia é comum nas meningites) e realização de tes- tes de suscetibilidade aos antimicrobianos. O LCR em um indivíduo é renovado a cada 6 a 8 horas e o volume total depende da faixa etária (Quadro 6). Observadas as contraindicações, o LCR deve ser coletado (em adulto, se possível, 4mL) e distribuído em tubos estéreis, para bioquímica (tubo 1), microbiologia (tubo 2), citologia (tubo 3) e testes moleculares (tubo 4). Dependendo dos exames a serem solicitados, pode ser desejável a coleta de um volume maior (10mL a 15mL em adultos), como no caso de suspeita de meningite causada por fungos ou micobactérias. Na ausência de contrain- dicações, até ummáximo de 10% do volume total estimado de LCR podem ser obtidos para a realização de exames complemen- tares através de punção lombar. Os tubos devem ser numerados na or- dem sequencial da coleta e corretamente rotulados (nome do paciente, tipo de espé- cime, data e hora da coleta), para evitar o borramento da etiqueta. O primeiro tubo não deve ser utilizado para os exames mi- crobiológicos, devido a maior probabilida- de de estar contaminado com a microbiota Quadro 5 Principais contraindicações para a realização da punção lombar 1. Evidências clínicas de hipertensão intracraniana grave, como ritmo respiratório irregular, bradicardia, hipertensão arterial, coma, sinais neurológicos focais, alterações e assimetrias pupilares, comprometimento de movimentos oculares, convulsões recentes (particularmente, subentrantes), papiledema, Glasgow <9 (ou queda súbita, >3 pontos), pois implicam maior risco de herniação cerebral. 2. Condições neurológicas concomitantes (AVC, trauma, abscesso), presumidas ou comprovadas por exame de imagem, que indiretamente implicam maior risco de efeito expansivo. 3. Imunossupressão de base ou induzida por medicamento, pelo risco da presença de lesões expansivas intracranianas decorrentes de infecções oportunistas. 4. Instabilidade hemodinâmica (choque) ou insuficiência respiratória, que podem ser agravados pelo procedimento. 5. Coagulopatia, pelo risco de ocasionar hemorragia subaracnoidea e compressão de raízes nervosas. 6. Presença de infecção de pele ou tecidos adjacentes no local de realização do procedimento, que possam significar risco de meningite supurativa iatrogênica.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2