Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
31 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Em crianças, é possível manter o ren- dimento final do isolamento bacteriano com a coleta de dois sets (e não três) e de volumes menores por amostra. (42) O volume total coletado nas duas amostras deve ser de aproximadamente 1% do vo- lume sanguíneo da criança estimado pelo peso corporal (cerca de 70mL/kg). Desta forma, uma criança com peso corporal de 10 kg, com volume sanguíneo estimado de 700mL, colherá duas amostras de 3,5mL. Preferencialmente, frascos de hemocultu- ras pediátricas (contendo até no máximo 20mL de meio de cultura) deverão ser utilizados, visando preservar a relação sangue/meio ideal. No intuito de permitir rapidamente a presunção etiológica nas sepses, é possível realizar a bacterioscopia pelo Gram do creme leucocitário ( buffy coat ). O material, que é constituído por leucócitos e plaque- tas, corresponde à camada intermediária branco-acinzentada que se forma entre o plasma (mais leve na parte superior) e os eritrócitos (mais pesados no fundo), após centrifugação de uma amostra de sangue total. O procedimento habitual consiste na coleta asséptica de uma amostra de sangue (3mL em adultos) em tubo com EDTA, que então é centrifugada a 1350 rpm durante 5 minutos. De forma geral, o método é bem menos sensível do que a hemocultura, uma vez que nas bacteremias a concentração de microrganismos no sangue tende a ser baixa (<2x10² UFC/mL) e a visualização do agente requer um número mais elevado (>4x10³ UFC/mL). O rendimento é algo melhor nas sepses causadas por bacté- rias com replicação intracelular, como na febre tifoide ( Salmonella typhi ), que constituem o contexto de maior aplicação de Gram do creme leucocitário na rotina clínica. É importante ressaltar que não se solicita “Gram do sangue”, pois a coloração direta de uma gota de sangue total por essa técnica é inadequada em virtude da presença de grande número de hemácias e plaquetas, além do exame ter menor chance de demonstrar o microrganismo quando comparado ao do creme leucocitário (maior concentração). Sistema nervoso central A meningite bacteriana aguda é uma emergência infecciosa. A obtenção e aná- lise do líquido cefalorraquidiano (LCR) é etapa importante para a confirmação do diagnóstico e intervenção terapêutica. (47) O diagnóstico oportuno e a interven- ção terapêutica imediata são cruciais para reduzir a letalidade e sequelas. O ideal é que, sempre que possível, o LCR seja prontamente obtido. Contudo, a decisão de realizar ou não a punção lombar para análise do LCR deverá, obrigatoriamente, levar em consideração: 1. as contraindica- ções ao procedimento (Quadro 5), pelo risco potencial de herniação encefálica e óbito; 2. a viabilidade de realizar o procedimento rapidamente, para que não ocorra atraso no início do antimicrobiano. (48)
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