Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
29 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. inicial coletado, para minimizar o risco de contaminação com os constituintes da mi- crobiota cutânea. (44,45) A proposta apesar de atraente, requer sistema de coleta a vácuo nem sempre disponível. Quando várias amostras são coletadas, é bem mais fácil perceber a ocorrência da contaminação. O crescimento bacteriano observado em geral se restringe a uma das amostras e a bactéria isolada não explica o contexto clínico. No entanto, independente do número de amostras, a interpretação do resultado do cultivo fica facilitada quando é possível presumir em bases clínico-epi- demiológicas o provável agente etiológico envolvido, e omicrorganismo isolado emcul- tivo corresponde ao previamente presumido. O Staphylococcus epidermidis (cocos Gram-positivos dispostos em cachos, coa- gulase-negativos), um dos constituintes mais numerosos da microbiota da pele, é o contaminante mais comum de hemo- culturas. A participação desta bactéria em processos patogênicos geralmente se restringe a contextos especiais, como nas infecções associadas a próteses e nas sepses que acometem pacientes com imunodeficiências graves. (46) Outros con- taminantes reportados com relativa fre- quência são Cutibacterium spp. (antes, Propionobacterium ), Corynebacterium spp., espécies do gênero Bacillus e, menos comumente, os Streptococcus do grupo viridans, Enterococcus spp. e Clostridium spp . Os laboratórios de microbiologia clí- nica devem monitorar rotineiramente a taxa de contaminação de hemoculturas, gerando alertas para revisão de técnicas de coleta de amostras quando esta taxa for superior a 1%. O isolamento de bactérias como Neisseria meningitidis, Haemophilus inf luenzae, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Staphylococcus aureus, Enterobacteriaceae, Pseudomonas aeruginosa, Bacteroidaceae geralmente tem significado clínico e deve ser valori- zado. Interpretação semelhante se aplica às espécies fúngicas do gênero Candida. O sangue para hemoculturas deve ser coletado exclusivamente através de punção venosa e, sempre que possível, em vasos dos membros superiores, no intuito de minimi- zar a possibilidade de contaminação du- rante o procedimento. Amostras coletadas a partir de acessos venosos estabelecidos (cateterismo, dissecção) são na maioria das vezes inadequadas em razão do elevado risco de contaminação (Quadro 4). Quando a coleta de amostras é feita em vigência de antimicrobianos, deve ser prio- rizado o momento imediatamente anterior à administração da dose do fármaco. A equipe do laboratório deve ser informada e, sempre que disponível, é recomendável a utilização de meios especiais contendo carvão ativado, resinas de vidro ou subs- tâncias líticas no intuito de minimizar a interferência do medicamento no cresci- mento bacteriano in vitro . Cabe ainda ressaltar que a prática de aguardar o pico febril para coletar hemo- culturas não é recomendável, dado ser o
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2