Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024
28 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 entre amostra sanguínea e meio de cultu- ra disponível, podendo, de forma inversa, prejudicar a recuperação de alguns micror- ganismos. O estabelecimento da relação ideal sangue/meio (usualmente 1/10 a 1/5) também leva em consideração a atividade bacteriostática do sangue conferida pela presença de leucócitos, lisozimas e comple- mento, e que exerce um papel antagônico ao crescimento bacteriano. Uma vez inoculada a amostra de san- gue, o frasco de hemocultura deverá ser mantido em temperatura ambiente (20°C a 25°C) e, o mais rápido possível, encami- nhado ao laboratório para processamento. Se, por limitações técnicas, não for possí- vel o encaminhamento imediato, o frasco de hemocultura deverá permanecer em temperatura ambiente. Não se refrigera frasco de hemocultura inoculado, visto que a baixa temperatura inibe a multiplicação bacteriana. Nas infecções bacterianas com foco primário extravascular e disseminação he- matogênica (abscesso visceral, pielonefrite, pneumonia, entre outros), as bactérias estão presentes no sangue, em geral de modo in- termitente e em pequeno número. Em razão disto, o isolamento de bactérias do sangue depende da coleta de vários sets (dois a três, em geral) com intervalo de minutos a algumas horas, dependendo da condição clínica do paciente. Nas emergências (como no choque séptico), as hemoculturas podem ser coletadas até simultaneamente, desde que em locais diferentes. Nas infecções bacterianas com foco primário endovascular (endocardite, trom- boflebite, aneurisma infectado, sepse asso- ciada a cateter), as bactérias estão usual- mente presentes de forma contínua, o que facilita o isolamento. A coleta de dois sets de hemoculturas (cerca de 40mL de sangue) tem rendimento satisfatório, entretanto tambémneste contexto recomenda-se coleta de maior número de amostras (três ou qua- tro sets, total de 60mL a 80mL de sangue), tornando mais simples a discriminação entre patógeno verdadeiro e contaminante eventual, o que é particularmente crítico na presença de prótese ou enxerto, em que “contaminantes clássicos” ( Staphylococcus epidermidis ) podem estar etiologicamente envolvidos. A coleta de amostras múlti- plas também aumenta a probabilidade de isolar microrganismos fastidiosos (grupo HACEK) que podem estar etiologicamente implicados em uma menor parcela de casos de endocardite. A prática de obtenção do volume total de sangue em uma única amostra (30mL a 60mL em adultos) no intuito de simplificar (e tornar mais econômico) o hemocultivo pode conduzir a resultados de difícil in- terpretação, (42) visto que o isolamento em amostra única poderá não permitir uma interpretação segura do papel patogênico do agente isolado, particularmente quando o microrganismo faz parte da microbiota resi- dente habitual da pele. Mais recentemente, um modelo alternativo para a coleta única preconiza desprezar o volume sanguíneo
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