Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

25 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. destas bactérias aderidas às células da mu- cosa vaginal (células-indício ou clue cells ). A doença inflamatória pélvica (DIP) corresponde à infecção aguda subclínica do trato genital feminino e é geralmente causada (>85%) por patógenos sexualmente transmitidos (principalmente a Neisseria gonorrhoeae e a Chlamydia trachomatis) ou por patógenos causadores de vagino- se bacteriana. (39) Menos frequentemente é causada por patógenos de origem entérica ( Escherichia coli, Bacteroides fragilis , Strep- tococcus agalactiae e Campylobacter spp.) ou respiratória ( Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus) que colonizaram a vagina. A confirmação do diagnóstico de DIP pode ser feita a partir de cultura de material obtido do endométrio. O material, que é coletado por aspiração em seringa, deve ser enviado para a cultura em meios adequados, inclusive para anaeróbios. No caso específico da tuberculose geni- tal, que frequentemente envolve as trompas e o útero, a confirmação do diagnóstico é feita através de cultura, uma vez que o exame direto através do Ziehl-Neelsen pode detectar micobactérias saprófitas da microbiota residente urogenital, morfologi- camente indistinguíveis do Mycobacterium tuberculosis. Trato intestinal Os intestinos possuem numerosa mi- crobiota residente. O Gram não é útil na investigação de diarreias, mas o exame direto com azul de metileno para determi- nar a presença (e o tipo predominante) de leucócitos fecais é um importante método complementar na presunção etiológica da natureza do quadro diarreico. As coproculturas são indicadas na in- vestigação de diarreias nas quais se suspei- te de etiologia bacteriana, principalmente as de natureza invasiva e passíveis de tratamento antibiótico (como na disenteria causada por Shigella sp.). Também podem ser empregadas para determinar a condição de portador assintomático ( Salmonella sp.). As coproculturas devem ser obtidas a partir de amostra fecal fresca e o laboratório deve ser informado da suspeita etiológica, uma vez que algumas bactérias ( Vibrio cholerae, Campylobacter jejuni, Clostridium difficile) necessitam de meios especiais. A Escherichia coli é a bactéria aeróbica mais prevalente na microbiota habitual fecal. No entanto, algumas estirpes de E. coli podem ser patogênicas e são impor- tantes causas de diarreia (crianças, via- jantes) associada ao consumo de alimentos, principalmente a E. coli enteropatogênicas (EPEC), E. coli enterotoxigênica (ETEC), E. coli enteroinvasiva (EIEC) e E. coli en- tero-hemorrágica ou produtora de toxina Shiga (EHEC ou STEC), incluindo a E. coli O157:H7. O simples crescimento da E. coli em coprocultura não tem significado clínico, exceto quando caracterizada como patogênica, o que nem sempre é feito em laboratórios de rotina.

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