Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 2 - 2024

23 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.2, p.7-64, mai-ago 2024 Testes diagnósticos em doenças infecciosas Fernando S.V. Martins et al. a higienização, deve ser evitado o uso de soluções detergentes, pois o resíduo poderá contaminar a urina coletada. Cabe ressal- tar, entretanto, que é importante afastar os grandes lábios (mulheres) e retrair o pre- púcio (homens) e desprezar o jato inicial. (36) A contaminação também pode ocorrer quando a urina é obtida através de catete- rismo, em função da passagem do cateter pela uretra anterior. (37) Nestes casos, à se- melhança da micção espontânea, recomen- da-se desprezar o jato inicial (10mL a 15ml). Contudo, nesta circunstância, está indicada a antissepsia da genitália antes da inserção do cateter, com o intuito de reduzir o risco de infecção secundária ao procedimento. (3) No caso de coleta de urina por meio de cateter de demora, o conteúdo do cateter e da bolsa coletora deve ser esvaziado e o circuito coletor clampeado abaixo do nível da porta de amostra, por 15 a 30 minutos. Em seguida, com uso de luvas estéreis, deve ser realizada a assepsia da porta de amostra com gaze e álcool 70%, antes de inserir a agulha com a seringa para aspirar urina. A amostra coletada é então transferida para recipiente estéril, a agulha e seringa descartadas na caixa de perfurocortante e o clamp removido do circuito coletor. A urina é um excelente meio de cultivo para muitas bactérias. Quando permane- ce por tempo prolongado em temperatura ambiente, ocorre excessiva multiplicação bacteriana antes da semeadura do material, o que impossibilita a interpretação quanti- tativa do resultado. A urina, especialmente se obtida a partir do jato médio ou por cateterismo, deve ser rapidamente enca- minhada ao laboratório para cultura. Se não for possível encaminhar o material em tempo hábil (em até um máximo de 30 minutos), a urina deverá ser imediatamente refrigerada entre 2°C e 8°C, por não mais que 24 horas. (3) O Gram de uma gota de urina não cen- trifugada é extremamente útil na avaliação quantitativa inicial do grau de bacteriúria. A análise da bacterioscopia inicia-se pela verificação da qualidade da amostra de urina obtida, uma vez que o achado de múltiplas células epiteliais (>3 células/ campo, aumento de 100x) e de vários tipos de microrganismos sugere inadequação da coleta (primeiro jato ou contamina- ção genital). Em relação à avaliação da bacteriúria, o achado de pelo menos uma célula bacteriana por campo de imersão corresponde, em mais de 95% das vezes, à cultura quantitativa da ordem de 100.000 colônias/mL. Cabe ressaltar, entretanto, que o Gram pode não detectar bactérias quando a contagem de colônias é igual ou menor que 10.000 colônias/mL, valores que podem significar infecção em indiví- duos sintomáticos (Quadro 3). De grande importância, através do Gram é possível presumir a etiologia da infecção urinária através da observação das características morfotintoriais da bactéria associada à bacteriúria, o que permitirá orientar a te- rapêutica inicial, notadamente importante nos casos mais graves.

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