Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

11 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.7-18, jan-abr 2024 Importância do Microbioma Intestinal em Gastroenterologia Maria do Carmo Friche Passos 3. MICROBIOTA INTESTINAL E DOENÇAS GASTROENTEROLÓGICAS Atualmente, existem pesquisas envol- vendo o microbioma em todas as áreas da gastroenterologia. Acredita-se que os microrganismos participem efetivamente da fisiopatologia de doenças esofágicas, gástricas, intestinais, hepatobiliares e pan- creáticas. (3,5,13) Nesse artigo, destacamos a possível participação da microbiota intesti- nal na síndrome do intestino irritável, nas doenças inflamatórias intestinais, na doen- ça celíaca, nas neoplasias e nas doenças metabólicas (esteatohepatite não alcoólica). 3.1. Síndrome do Intestino Irritável Embora a etiopatogenia da síndrome do intestino irritável (SII) não seja totalmente conhecida, diversas alterações fisiopato- lógicas são descritas, tratando-se prova- velmente de uma desordem multifatorial. Nos últimos anos, vários pesquisadores demonstraram uma evidente alteração da microbiota (disbiose) em parcela signifi- cativa de pacientes com SII. (15-17) Umdos mais fortes indícios da importân- cia da microbiota e da inflamação de baixo grau na etiologia da SII é o aparecimento de sintomas crônicos compatíveis com a SII após um quadro de gastroenterite aguda. (18,19) A SII pós-infecção (SII-PI) tem sido descrita após infecções bacterianas ( Shigel- la, Salmonela, Campylobacter e Yersinia) , viróticas (rotavírus, adenovírus, calicivírus) e parasitárias ( Giardia lamblia, Blastocystis hominis ). (19) Estima-se que até 20% dos pa- cientes com quadro de gastroenteriteaguda possam desenvolver sintomas compatíveis com a SII, destacando-se alguns fatores considerados de risco para o seu apare- cimento, como sexo feminino, toxicidade do microrganismo, diarreia prolongada e presença de eventos estressantes durante o curso da infecção (ansiedade e depressão). (15,18,19) Considera-se ainda que a gravidade do quadro inicial (baseando-se na neces- sidade de busca ao serviço de urgência e hospitalização) é o principal fator preditivo para o desenvolvimento de um quadro crô- nico compatível com a SII-PI. (19) Outro dado importante é a presença frequente de supercrescimento bacteriano do intestino delgado em pacientes com SII. (17-19) Um estudo realizado por Pimentel e colaboradores observou clara associação entre a presença de supercrescimento bac- teriano e redução das células intersticiais de Cajal, o que poderia explicar o desen- volvimento da SII-PI. (18) Evidências na li- teratura sugerem que terapias capazes de modular a microbiota intestinal como dieta, antibióticos, probióticos, prebióticos e até mesmo o transplante fecal, podemmelhorar os pacientes com SII, reforçando o papel da disbiose na etiopatogenia da síndrome. (15-20) Ensaios clínicos controlados compa- raram o efeito de antibióticos versus pla- cebo no tratamento de pacientes com SII, demonstrando melhora dos sintomas, es- pecialmente da diarreia e flatulência, no

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