Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

37 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.28-50, jan-abr 2024 Pancreatite Aguda - Definição, Patogênese, Classificação, Diagnóstico José Marcus Raso Eulálio et al. 6. Insuficiência orgânica Em torno de 20% dos portadores de pancreatite aguda vão apresentar as for- mas moderadamente severa e severa. A insuficiência orgânica ocorre de forma transitória resolvendo-se em até 48 horas na pancreatite moderadamente severa, e por mais de 48 horas na forma severa. A insuficiência respiratória é definida como pressão arterial de oxigênio/oxigênio ins- pirado fracionado ≥300; a insuficiência circulatória, como pressão arterial sistólica <90 mmHg e não responsiva a fluidos; e a insuficiência renal como a concentração plasmática de creatinina ≥170 µmol/L. To- dos estes quadros podem ser consequência da lesão endotelial difusa induzida pelo processo inflamatório sistêmico. Insuficiência hepática, coma, insufi- ciência adrenal e coagulação intravascular disseminada são quadros possíveis nos pacientes graves como resultado exclusivo do processo inflamatório, sem que haja con- comitância de infecção. A sepse é incomum na primeira semana e os antibióticos têm sido evitados nessa fase por sua ineficácia e para evitar o desenvolvimento de infecção sequencial por bactérias multirresistentes e fungos. O choque pode ser resultado de hemor- ragia retroperitoneal ou, mais frequente- mente, de sequestro líquido para o terceiro espaço, alterações microcirculatórias e inibição da função cardíaca. Na tentativa de corrigir o choque, a hiperidratação venosa pode causar, em sequência, importante sequestro líquido a nível abdominal com consequente hipertensão abdominal e síndrome compartimental abdominal. A síndrome compartimental abdominal é definida pela presença de pressão intra-ab- dominal acima de 20 mmHg associada ao surgimento de nova insuficiência orgânica. Insuficiência circulatória, renal, respirató- ria e incapacidade de nutrição enteral são consequências do aumento progressivo da pressão abdominal. (10,11) 7. Infecção da necrose pancreática A necrose pancreática e peripancreática que acompanha os quadros severos de pan- creatite pode se resolver sem necessidade de qualquer intervenção invasiva. Porém, quanto maior a quantidade de necrose, maior a possibilidade de ocorrer infecção da mesma. A gravidade da infecção será tam- bém proporcional à quantidade de necrose. A mortalidade será maior nos pacientes que apresentarem infecção mais precoce da necrose, quando comparados a pacientes com infecção tardia. Considera-se infecção tardia da necrose aquela que ocorre após quatro semanas de evolução do quadro, quando já existe processo organizado e a necrose é definida como “emparedada”. Germes Gram-negativos são os mais fre- quentemente encontrados seguidos pelos anaeróbicos e por fungos. Oprincipal mecanismo de contaminação e consequente infecção da necrose pancreá- tica é a translocação bacteriana. A translo- cação será resultado da disbiose associada

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