Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

35 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.28-50, jan-abr 2024 Pancreatite Aguda - Definição, Patogênese, Classificação, Diagnóstico José Marcus Raso Eulálio et al. 5. Necrose pancreática A necrose pancreática possui papel central na pancreatite aguda severa. Ela potencializa os efeitos sistêmicos propor- cionalmente ao seu volume e leva a compli- cações locais que podem tornar necessárias as intervenções invasivas como: necrose emparedada, necrose infectada, pseudo- cistos e síndrome de desconexão. Toda pancreatite gera algum grau de necrose. Na grande maioria das vezes ocorre necrose gordurosa microscópica limitada, interlobular e intersticial, não identificada radiologicamente e associada ao quadro classificado como “pancreatite edematosa ou intersticial”. Em alguns pacientes a quantidade de necrose toma proporções macroscópicas, sendo associa- da a áreas desvascularizadas na projeção do parênquima pancreático ou no entorno deste. A tomografia computadorizada (TC) com contraste frequentemente não identi- fica de forma adequada áreas de necrose nas primeiras 72 horas de evolução de uma pancreatite severa (Figura 5), e devido a essa baixa sensibilidade este exame só é indicado precocemente quando é neces- sário o diagnóstico diferencial com outras causas de abdome agudo. (9) Após uma semana, em geral, é possível identificar adequadamente a necrose pancreática e peripancreática na TC com contraste (Figura 5), as quais se apresentam como coleções com variadas dimensões. Cole- ções com até 4,0cm têm tendência a serem reabsorvidas; coleções maiores tendem a se organizar após quatro semanas com a formação de uma cápsula fibrosa no entor- no. A presença da cápsula e a localização intrapancreática da coleção caracteri- zam a chamada “necrose emparedada” (9) (Figura 6). Este processo pode ocorrer também em topografia peripancreática e, frequentemente, inclui, em pacientes mais graves, áreas intra e peripancreáticas. Em casos mais leves do ponto de vista local, uma coleção fluida aguda precoce e sem necrose pode surgir e se organizar com Figura 5 Paciente com pancreatite necrotizante severa, evoluiu com insuficiência multiorgânica e choque no terceiro dia após o início do quadro. Nas setas azuis as tomografias seriadas evidenciam: corpo pancreático captando contraste no D1, extensa necrose que poupa apenas a cabeça do pâncreas no D3, aumento da área de coleção no D9 e necrose emparedada com gás no interior no D47.

RkJQdWJsaXNoZXIy ODA0MDU2