Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024
32 Pancreatite Aguda - Definição, Patogênese, Classificação, Diagnóstico José Marcus Raso Eulálio et al. Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.28-50, jan-abr 2024 associados a casos mais graves. A nicotina, em especial, predispõe à ativação de célu- las estreladas no parênquima pancreático e à imunossupressão mediada por células T CD4 + e CD25 + . (6) Uma vez que o gatilho para o desen- volvimento de pancreatite ocorre (p.ex. , obstrução e refluxo em ducto comum), a intensidade do processo inflamatório será modulada por um amplo conjunto de fatores, que incluem: (1) continuidade do estímulo que deflagrou a pancreatite (p.ex ., obstrução biliar com cálculo encravado na papila); (2) comorbidades prévias; (3) ação de mecanis- mos protetores que impedem a ativação do tripsinogênio ou permitem a inativação da tripsina a nível celular e sistêmico. Fatores genéticos pessoais influenciam a cascata enzimática potencializando ou controlando o estímulo inflamatório de- flagrado. São considerados mecanismos protetores naturais: (1) Síntese de tripsi- na como enzima inativa (tripsinogênio); (2) Autólise da tripsina ativada; (3) Com- partimentalização da tripsina; Síntese de inibidor específico de tripsina – serine protease inhibitor Kazal type I ( SPINK 1 ); (4) Baixas concentrações intracelulares de cálcio ionizado (Ca ++ ). (7) Por outro lado, di- versas mutações genéticas, quando presen- tes, interferem nos mecanismos protetores potencializando a inflamação. Os genes SPINK1 e CTRC controlam a conversão de tripsinogênio em tripsina, impedindo a ativação da mesma de forma inapropriada a nível intracelular. Mutações nesses genes irão permitir o acúmulo de tripsina ativada no citoplasma. Uma mutação no gene PRSS1 poderá, inclusive, aumentar esse acúmulo. Os genes SPINK1 e CTRC inibem, ainda, a cascata enzimática que se segue à conver- são do tripsinogenio em tripsina e mutações permitirão que outras enzimas sejam ativa- das em sequência (Figura 3). Mutações no gene CPA1 levarão ao estresse dos retículos endoplasmáticos com potencialização da autodigestão. Enfim, influências genéticas poderão definir por que alguns pacientes apresentam quadros inflamatórios muito mais intensos que outros. (8) 4. Alterações locais e sistêmicas Entre as alterações locais observadas nas células acinares, destacam-se: inibição da secreção em região apical; enzimas di- gestivas anormalmente ativadas dentro de vesículas citoplasmáticas; processamento endocítico mal-direcionado; autofagia e degradação lisossomal; fusão de vesícu- las (lisossomos) em região basolateral da célula; disfunção mitocondrial; vazamento paracelular; geração de radicais livres de oxigênio; e liberação de citocinas infla- matórias. (3) Ganha destaque, o aumento da concentração intracelular de cálcio iônico, o qual pode ocorrer devido a diferentes estímulos (3) e levar à ativação precoce do tripsinogênio, aumento da autofagia e ati- vação da via do fator de necrose tumoral (TNF) Kapa B que, por sua vez, acarre- ta a produção e liberação de mediadores pró-inflamatórios.
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