Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

29 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.28-50, jan-abr 2024 Pancreatite Aguda - Definição, Patogênese, Classificação, Diagnóstico José Marcus Raso Eulálio et al. desencadeia a pancreatite aguda. Impor- tantes diferenças regionais ( 2) tornam uma ou outra predominante em diferentes paí- ses (Figura 1). As recentes classificações incluem ainda como causas o trauma, tu- mores, alterações metabólicas como hi- pertrigliceridemia, alterações genéticas, autoimunes, fármacos, infecções e, final- mente, em torno de 5% de causas de origem indeterminada. ( 3) O permanente desenvolvimento e in- corporação de novas medicações torna relevante consultarmos na literatura sobre a possibilidade de um determinado fármaco em uso por paciente com pancreatite aguda ser o desencadeante ou agravante do pro- cesso. Recentemente Wolfe e colaborado- res ( 4) descreveram em revisão sistemática que incluiu 750 artigos, 212 medicações associadas à etiologia da pancreatite agu- da, sendo 144 destas nas classes 1a, 1b e 1c em que existe evidência mais robusta de relação causa-efeito. Já Simons-Linares e colaboradores ( 5) encontraram 183 medi- cações associadas à pancreatite aguda, 56 relacionadas com pancreatite grave e 34 associadas a óbito. 2. Autodigestão Uma vez desencadeado o processo in- flamatório, seja por obstrução de ducto comum e refluxo biliar para a via pancreá- tica, seja por aumento da viscosidade do suco pancreático associado aos efeitos do álcool, se inicia a nível celular um processo forma sequencial, para aproximar o leitor de uma “definição”. São eles: (1) agentes de- sencadeantes, (2) autodigestão, (3) fatores predisponentes e mecanismos protetores, (4) alterações locais e sistêmicas, (5) necro- se pancreática, (6) insuficiência orgânica, (7) infecção da necrose pancreática. A pancreatite aguda pode ser defi- nida como: “Processo inflamatório do pâncreas de instalação súbita e intensidade variável, associado a múltiplos agentes desenca- deantes , que levam à ativação inapropriada de enzimas digestivas no parênquima do órgão, e à autodigestão , com consequên- cias definidas pelo balanço e influência de fatores predisponentes e mecanismos protetores , tendo resolução sem sequelas na maioria dos pacientes, mas podendo também ter evolução desfavorável e ser acompanhado de complicações graves, que sucedem um ciclo vicioso de alterações locais e sistêmicas , às quais conduzem ao acúmulo de quantidade variavel de necrose pancreática , que por sua vez predispõe ao desenvolvimento precoce de insuficiência orgânica e, posteriormente, de sepse, por infecção da necrose pancreática .” PATOGÊNESE 1. Agentes Desencadeantes As etiologias biliar e alcoólica são as duas mais prevalentes no processo que

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