Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

16 Importância do Microbioma Intestinal em Gastroenterologia Maria do Carmo Friche Passos Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.7-18, jan-abr 2024 metabólicos protetores como a resistência ao ganho de peso e ao desenvolvimento de esteatose hepática. (5,6) O metabolismo anaeróbio das bactérias inclui também a fermentação proteolítica no cólon distal, originando derivados nitrogenados como aminas e amônia, alguns dos quais com efeitos carcinogênicos. (10) OBESIDADE E ESTEATO-HEPATITE NÃO ALCOÓLICA A obesidade surge sobretudo como consequência do consumo de alimentos altamente calóricos, carboidratos e gordu- ras saturadas, embora o simples aumento da ingesta calórica não seja suficiente para explicar a verdadeira epidemia atual de obesidade. (10) Camundongos obesos possuem mais genes codificadores de enzimas que quebram polissacarídeos não digeríveis da dieta, além de terem mais produtos de fermentação (AGCC) e menor número de calorias em suas fezes, sugerindo que nesses animais a micro- biota parece auxiliar extraindo calorias adicionais da dieta. (33) A microbiota intestinal participa tam- bém da digestão dos polissacarídeos, in- crementando a quantidade de glicose no fígado e, portanto, a lipogênese. Tem sido descrita uma microbiota humana do “tipo obeso” associada à síndrome metabólica e excesso de peso, na qual nota-se aumen- to da relação Firmicutes/Bacteroidetes . (5,7,33) Foi demonstrado que camundongos geneticamente obesos têm 50% menos Bacteroidetes e mais Firmicutes que os animais magros. (34) É também interessante a observação de que a administração de uma dieta de elevado teor calórico em ani- mais de peso normal determina marcante redução de Bacteroidetes e incremento de Firmicutes 34 . Pesquisas atuais sugerem que bifidobactérias e Bacteroides ssp. parecem ser capazes de proteger contra o ganho de peso, surgindo a “hipótese microbiana para a obesidade”, o que pode determinar implicações terapêuticas muito importantes no futuro. (33-35) CONCLUSÃO As alterações na composição e na fun- ção da microbiota gastrointestinal (dis- biose) têm um impacto direto na saúde humana e parecem desempenhar um papel importante na etiopatogenia de várias doenças gastroenterológicas, sejam elas funcionais, inflamatórias, neoplásicas ou metabólicas. Novas pesquisas sobre a inter-relação do microbioma intestinal com o hospedeiro serão essenciais para que possamos reco- nhecer as possíveis estratégias de como manipular de forma favorável os milhares de microrganismos que habitam o trato digestivo, promovendo a eubiose e com- batendo as possíveis doenças digestivas associadas.

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