Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

15 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.7-18, jan-abr 2024 Importância do Microbioma Intestinal em Gastroenterologia Maria do Carmo Friche Passos colorretal (CCR). (27-29) Não está claro se existem microrganismos específicos par- ticularmente patogênicos (participando diretamente da carcinogênese) ou se o processo requer interações específicas en- tre os tecidos do hospedeiro e a microbiota colônica. (27,28) Análises do microbioma fecal de pacientes com CCR têm demonstrado aumento das espécies de Bacteroides , di- minuição de bactérias produtores de bu- tirato e aumento daquelas potencialmente patogênicas. (29) Alguns microrganismos, como o Fusobacterium nucleatum , Bacte- roides fragilis e Escherichia coli , estão rela- cionados ao desenvolvimento e progressão do câncer colorretal. A presença dessas bactérias em tecidos tumorais indica maior agressividade da doença. (31) Foi observado que a microbiota presente na lesão neoplá- sica difere daquela encontrada na muco- sa colônica circunvizinha (normal), com maior abundância de Coriobacteriaceae . É provável que as alterações da microbiota junto ao câncer estejam relacionadas com a disponibilidade de nutrientes e outras condições criadas pelas próprias células neoplásicas. (31) Estudos experimentais empregando cepas probióticas específicas têm eviden- ciado resultados encorajadores, sugerindo que estes produtos são capazes de inibir o CCR ao interferir no sistema imune e apop- tose, sendo capaz de modular as bactérias intestinais e seu metabolismo. (24) Tem sido demonstrado que Lactobacillus e Bifido- bacterium induzem apoptose e inibem a proliferação de células cancerígenas de pa- cientes com CCR. As espécies L. johnsonii e L. reuteri em altas concentrações podem levar a danos nas membranas de células cancerígenas e causar a liberação eleva- da de lactato desidrogenase. Metabólitos derivados das espécies de L. plantarum apresentam efeitos antiproliferativos e in- dução de apoptose em células afetadas. (32) A combinação de sobrenadantes celulares com ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) aumenta a expressão gênica pro-apoptóti- ca, assim como aumenta a citotoxicidade em células cancerígenas. (31) MICROBIOTA E DOENÇAS METABÓLICAS A microbiota intestinal contribui dire- tamente para a metabolização de nutrientes e vitaminas essenciais para a viabilidade do hospedeiro, colaborando para a obten- ção de energia a partir dos alimentos. (5,6) Esta energia é adquirida especialmente através da fermentação de carboidratos não absorvíveis em uma reação que in- duz a produção de AGCC, hidrogênio e dióxido de carbono. É também importante ressaltar que a microbiota intestinal tem participação direta no metabolismo dos ácidos biliares provenientes do colesterol da dieta. (10) No intestino, os ácidos biliares primários ligam-se a receptores celulares, promovem a absorção das gorduras e vita- minas lipossolúveis e ligam-se a receptores celulares, como o TGR-5, que ao serem ativados desencadeiam diversos efeitos

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