Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

14 Importância do Microbioma Intestinal em Gastroenterologia Maria do Carmo Friche Passos Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.7-18, jan-abr 2024 células-tronco, assim como pela produção de algumas substâncias como o butirato, capazes de afetar a integridade do DNA e a regulação imune. (27-29) Estudos em animais de experimenta- ção e em humanos têm identificado espé- cies efetoras e/ou inter-relações entre os membros da comunidade microbiana do estômago e do cólon, o que aumenta o risco do desenvolvimento de lesões malignas nestes órgãos. (29) Os estudos clínicos envolvendo a parti- cipação da microbiota intestinal no desen- volvimento das neoplasias digestivas ainda são bastante limitados em razão do baixo número de pacientes incluídos e do curto período de acompanhamento. É possível que as diversas estratégias de manipula- ção da microbiota e/ou a resposta imune do hospedeiro a esses microrganismos poderão futuramente prevenir ou mesmo tratar determinados tipos de neoplasias gastrointestinais. (27-29) Câncer de Esôfago Embora ainda existam poucas pes- quisas sobre os efeitos da microbiota no desenvolvimento do câncer de esôfago é possível considerar que alterações da mi- crobiota gástrica possam contribuir para o aumento da incidência do adenocarcinoma de esôfago – particularmente aqueles que surgem próximo à junção gastroesofágica. (27) Alguns trabalhos sugerem que a mi- crobiota endógena do esôfago difere entre indivíduos commucosa esofágica normal e aqueles portadores de esôfago de Barrett. (28) Os estudos nessa área ainda são embrio- nários, mas é provável que a diferenciação entre os microbiomas esofágico e gástrico venha se constituir em fator importante para futuras investigações. Câncer Gástrico Há alguns anos reconhece-se que o H. pylori inicia a cascata inflamatória no estômago que progride através da gastrite crônica para metaplasia intestinal, atrofia gástrica e câncer, sendo considerado um carcinógeno do tipo 1A pela OMS. (30) Contu- do, somente a minoria dos pacientes infecta- dos desenvolve câncer gástrico e a bactéria está ausente ou minimamente presente nas lesões neoplásicas do estômago. Recente- mente, estudos em animais de experimen- tação demonstraram que a microbiota que se desenvolve no estômago, em resposta às condições de baixa acidez, tambémparticipa da cascata da carcinogênese gástrica. (27,30) Assim sendo, as inter-relações entre o H. pylori e a microbiota gástrica não H. pylori representam um novo desafio ao dogma da carcinogênese gástrica. Câncer Colorretal O microbioma intestinal, juntamente com fatores ambientais, como a dieta e o estilo de vida, têm sido considerados por renomados pesquisadores como potenciais promotores do desenvolvimento do câncer

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