Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

13 Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.7-18, jan-abr 2024 Importância do Microbioma Intestinal em Gastroenterologia Maria do Carmo Friche Passos que cepas probióticas de VSL#3 (contendo diferentes tipos de lactobacilos, bifido- bacterias e estreptococos) são capazes de induzir remissão clínica em um subgrupo de pacientes com retocolite ulcerativa. (8,24) Este probiótico também se mostrou efi- caz na prevenção da pouchite. (24) Novas cepas probióticas, teoricamente capazes de modular a microbiota intestinal, inibir a colonização e aderência de bactérias patogênicas aos enterócitos e diminuir a síntese de citocinas pró-inflamatórias, são aguardadas e poderão, de fato, participar do arsenal terapêutico das DII (8,24) Embora alguns ensaios clínicos iniciais tenham evidenciado que o transplante fecal seja capaz de promover indução da remissão clínica em pacientes com doença de Crohn e retocolite ulcerativa, os resultados ainda são bastante controversos na literatura. (21,23) 3.3. Doença Celíaca Além dos conhecidos mecanismos imu- nológicos e genéticos, acredita-se que fa- tores ambientais e a microbiota intestinal possam ter participação efetiva na fisio- patologia da doença celíaca. (25) Trabalhos recentes evidenciam a presença de uma disbiose intestinal nesses pacientes (tanto no grupo não tratado como naqueles trata- dos com a dieta isenta de glúten), quando comparados a indivíduos saudáveis. De fato, alguns genes alterados na doença celíaca parecem ter papel importante na colonização bacteriana e na sua sensibi- lização. Por outro lado, a disbiose parece capaz de provocar uma resposta anormal ao glúten (e a outros fatores ambientais promotores da doença) em indivíduos ge- neticamente predispostos. (25) Foi observado que a dieta isenta de glúten favorece a diminuição de bacté- rias consideradas benéficas, como Bifi- dobacterium e Lactobacilos , e o aumento de bactérias Gram-negativas como E. coli e Bacteroidetes . (26) Para se compreender se a disbiose intestinal é a causa ou a consequência da doença, são necessários estudos em indivíduos saudáveis de fa- mílias com risco aumentado da doença. (25) Estas investigações poderão revelar quais os genes e genótipos estão envolvidos, as- sim como identificar fatores microbianos capazes de influenciar o desenvolvimento da tolerância oral ao glúten. É possível que cepas específicas de probióticos ou os posbióticos se mostrem, no futuro, de valia no tratamento e até mesmo na prevenção da doença celíaca. (25,26) 3.4. Neoplasias gastrointestinais Diversas espécies microbianas partici- pam direta ou indiretamente na gênese de um número substancial de neoplasias ma- lignas. (27) Estima-se que pelo menos 15% de todos os casos de câncer estão relacionados a agentes infecciosos. (28) Microrganismos entéricos podem promover a carcinogênese através de diferentes mecanismos, como a indução de inflamação, aumento da proli- feração celular, alteração da dinâmica das

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