
PARECER CFM Nº 51/2016
INTERESSADO: Anvisa
ASSUNTO: Tratamento imunológico para aborto recorrente em reprodução humana assistida
RELATOR: Cons. José Hiran da Silva Gallo
EMENTA: Os estudos relacionados à aloimunização ou imunoterapia com linfócitos paternos para abortamentos recorrentes não têm apresentado resultados consistentes, sendo procedimento experimental, só podendo ser realizado em protocolos de pesquisa de acordo com as normas do sistema CEP/CONEP.
DA CONSULTA
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) encaminha ao CFM solicitação de parecer sobre tratamento imunológico para aborto recorrente em reprodução humana
assistida.
A referida consulta foi analisada pela Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia/Núcleo de Reprodução Assistida, que emitiu seu parecer ,que adoto na íntegra e transcrevo abaixo.
A Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia/Núcleo de Reprodução Assistida (CTGO/RA) está constituída por representantes da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), além de membros, na maioria, ginecologistas de vários Conselhos Regionais de Medicina.
Desde 2006, quando consultados pela Anvisa, o tema sobre tratamento imunológico para aborto recorrente e aloimunização em reprodução a ssistida têm sido recorrente, ou seja, durante os últimos dez anos (Ofício CFM-Departamento de Comissões e Câmaras Técnicas nº 971, de 5 de abril de 2006 e Ofício CFM nº2586/2015).
Neste ano, com a publicação da Nota Técnica nº 005/2016 GSTCO/GGMED/DIARE/ANVISA determinando que os protocolos de uso das técnicas devam acontecer sob a forma de pesquisa clínica, necessitando ser aprovados pelo sistema do Comitê de Ética em Pesquisas (CEP) – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e oferecidos sem custo aos pacientes, a CTGO/RA/CFM, atendeu à solicitação de audiência pelos representantes dos sete centros de lmunologia da Reprodução no Brasil.
Após análise do dossiê que nos foi encaminhado:
1. Como medicina baseada em evidência, a meta - análise com a qual o grupo defende o uso da imunoterapia utilizando linfócitos paternos ainda não se revela conclusiva:
a. Dos 18 trabalhos, treze são em língua inglesa; porém, cinco pertencem à literatura chinesa–que dificulta o acesso a todos os estudos que compõem a meta-análise;
b. Apesar de se declararem estudos randomizados tendo o uso de placebo nos grupos - controle, houve heterogeneidade pela administração de: solução salina estéril, linfócitos maternos, medicina tradicional chinesa ou ausência de tratamento como fatores a serem comparados;
c. Vale ressaltar que o grupo em que se comparou imunoterapia com linfócitos paternos à medicina tradicional chinesa representa 50,4% do total das pacientes analisadas, cuja
significância favorecendo a intervenção imunológica foi notória . Pode-se dizer que as conclusões da meta-análise foram influenciadas pelos resultados de um grande estudo;
d. Dentre as conclusões da própria meta-análise, as taxas de sucesso foram melhores em asiáticas que nas europeias ou americanas. Isso nos leva a questionar o comportamento da nossa população em relação à terapêutica proposta;
e. A meta - análise afirma que a segurança e conveniência da terapia ainda estão sob investigação;
f. Outra conclusão descrita é a necessidade de se padronizar critérios de inclusão e exclusão dos casos a serem tratados;
g. Por fim, os autores refletem sobre a necessidade de mais estudos sobre os mecanismos de ação para determinar se a imunoterapia com linfócitos paternos induz alterações imunológicas protetoras.
A literatura médica evidencia que cerca de metade dos casos de perdas gestacionais recorrentes não têm sua etiologia elucidada, e que 40 a 65% dos casais têm bebês nascidos sem tratamento adicional.
A aloimunização ou imunoterapia com linfócitos paternos não está mais citada como causa de abortamentos de repetição pela The American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) nem pela International Federation of Fertility Societies(IFFS). Tanto o Royal College of Obstetricians and Gynecologists (RCOG) recomenda que esses tratamentos imunológicos não devam ser oferecidos fora de um contexto de pesquisa quanto a American Society for Reproductive Medicin e (ASRM) afirma que os estudos relacionados têm produzido resultados inconsistentes e não recomendam o tratamento.
Pelo exposto, a aloimunização ou imunoterapia com linfócitos paternos para abortamentos recorrentes é procedimento experimental, só podendo ser realizado em protocolos de pesquisa, de acordo com as normas do sistema CEP/CONEP.
Este é o parecer, S.M.J.
Brasília-DF, 17 de novembro de 2016.
JOSÉ HIRAN DA SILVA GALLO
Conselheiro-relator
Não existem anexos para esta legislação.
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