MANUAL DE PUBLICIDADE E ASSUNTOS MÉDICOS

Manua l d e P u b l i c i dad e d e A s s un t os Mé d i cos 57 Desta forma, o Boletim Médico é uma exigência à qual não podemos nos opor. Ele faz parte do direito que tem a sociedade de ser informada sobre condições de saúde de pessoas que transcen- dem a sua mera condição de cidadão. Resta-nos, apenas, a obrigação de divulgar o estritamente necessário, sem saciar certos impulsos de curiosidade, nem aproveitar determinadas situações para promover, em hora tão grave, a nossa própria imagem. Quando Winston Churchill esteve internado pela ultima vez, na véspera de sua morte divulgou-se um Boletim Médico com a simples afirmativa: “Agravou-se o estado de saúde do Ministro Churchill. Mas o doente dormiu, tranqüilamente, toda a noite”. Não havia maneira mais elegante e mais prudente de se anunciar que o doente entrara em coma e que o prognóstico era sombrio. Ou como aquele outro que se limitava puramente a informar: “O paciente entrou em convalescença e brevemente estará de alta”. A Ordem dos Médicos da Itália suspendeu definitivamente o Prof. Galleazzi Lizi do exercício da profissão, em virtude de ter ele abusado da confiança do Papa Pio XII, fornecendo informações à imprensa sobre a doença de Sua Santidade, inclusive com fotografias em que aparecia ele junto ao Sumo Pontífice. Finalmente não se pode esquecer que, mesmo diante de certas situações, tais como interesse do Estado ou da Sociedade, deve o médico informar apenas particularidades que se tornem úteis, sem incorrer em intimidades desnecessárias, sem denegrir o conceito dos pacientes, restringindo- se, tão-somente, às elevadas finalidades que conduzem o médico a fazer tais declarações. A É t i c a M é d i c a e a É t i c a J o r n a l í s t i c a O grande interesse pela ética médica, nos últimos anos, não se deve nem ao ressurgimento de princípios morais, filosóficos ou teológicos, nem tampouco ao sentimento de culpa de uma pro- fissão médica angustiada pela situação atual da Medicina. Ele se deve, sim, a uma variedade de fatores externos e internos. Entre os fatores externos vale citar: a crescente preocupação pública com o comportamento dos médicos; o maior interesse da mídia pelos problemas médicos, especialmente nos casos de con- trovérsia e conflitos; o desvirtuamento das finalidades dos sistemas de assistência médica, finan- ciados pelo povo, mas a serviços de elites e freqüentemente até de setores financeiros escusos ou de setores políticos. As razões internas não são menos evidentes: o grande número de procedimentos tecnológicos que criaram sérios dilemas morais e científicos: problemas nos cuidados aos recém-nascidos ou aos que estão morrendo; problemas relacionados ao uso de drogas que modificam o comporta- mento e até o pensamento dos indivíduos e, o grande problema do direito de todos à saúde e ao acesso à assistência médica. O grande interesse pela ética jornalística se deve ao alcance da grande influência que os órgãos de informação têm, nos dias de hoje, para modificar comportamentos e condutas, impor direções, cons- truir e destruir imagens; alcance e influência infinitamente superiores aos de poucos anos atrás. Com códigos ou sem códigos, o que prevalece no setor médico antes e depois dos Conselhos, é a ética tradicional centrada no paciente, colocando-se acima de qualquer interesse que não seja

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