MANUAL DE PUBLICIDADE E ASSUNTOS MÉDICOS

Manua l d e P u b l i c i dad e d e A s s un t os Mé d i cos 55 rito comercial, constituindo-se uma verdadeira “roleta molecular”, como manobra de concorrência. O velho e simpático farmacêutico que manipulava as fórmulas passadas pelos médicos no fundo das boticas, viu-se obrigado a desaparecer e dar lugar aos formidáveis e imponentes complexos industriais que, de todas as formas, lutam pela conquista dos mercados, utilizando-se de uma téc- nica propagandística nem sempre recomendável. A propaganda farmacêutica não pode deixar de ser submetida à apreciação do Ministério da Saúde e aguardar uma conveniente discrição, a fim de evitar enganos e exageros capazes de confundir o médico ou prejudicar o público consumidor. Não se pode negar que a indústria farmacêutica gasta elevadas somas em caríssimas propa- gandas policromáticas - raramente lidas pelos médicos, em coquetéis, em anúncios publicitários leigos e científicos, em certos favores e patrocínios, alguns deles plenamente aceitáveis. Toda essa fabulosa soma gasta, no entanto, poderia ser endereçada à produção de medicamentos de melhor qualidade e menor preço, ou através de incentivos às clínicas universitárias no campo da observação terapêutica. A indústria farmacêutica não deve redundar numa indústria qualquer, uma vez que o seu raio de ação é a saúde do consumidor. Com efeito, o profissional da Medicina, às voltas com a sua atividade, de ordinário não pode julgar, por si mesmo, a eficácia dos produtos que prescreve. E quando ele escolhe aqueles fabricados por insti- tuições de maior prestígio, esses medicamentos nem sempre correspondem à realidade presente. Genericamente, sua experiência é oriunda da própria observação, da leitura de trabalhos publi- cados em revistas especializadas, ou, finalmente, trazida pelo “visitador médico”, de contribuição valiosa, mas limitada, visto que só o divulga como é natural, aquilo que favorece sua Empresa, omitindo, por conseguinte, seus concorrentes. Por isso, não deve o médico aceitar passivamente essa instrução como fato indiscutível, nem ser usado como colaborador na corrida competitiva adotada por alguns produtores de drogas. Foi assim, que nos Estados Unidos, em janeiro de 1959, surgiu a publicação de The Medical Letter , editado sem financiamento ou ajuda econômica da indústria farmacêutica. Seu principal objetivo é a avaliação crítica de toda nova droga, fornecendo informações preliminares e, poste- riormente, os resultados da observação de seu uso. É claro que essa iniciativa nem sempre tem merecido o apoio das indústrias sobreditas. Outro fato significativo é a inclusão de propaganda de produtos farmacêuticos em revistas e jor- nais médicos. Essa circunstância não deixa de levar muitos profissionais à idéia de que essa publicidade seja uma garantia da indiscutível qualidade dos produtos anunciados. Não se pode esquecer, afinal de contas, que a colaboração da indústria farmacêutica é algo im- portante na solução do problema financeiro das edições e manutenção das publicações. No en- tanto, mais dia menos dia, essas indústrias terão, inevitavelmente, o monopólio das divulgações médicas, editando matéria de suas conveniências, o que dá margem a sérias reservas acerca do aspecto ético da questão. A publicação do médico passaria a ter importância secundária. Quando toleramos a inclusão de propaganda relativa a certas drogas em revistas médicas, saben- do que a efetividade das mesmas não coincide com as excelências preconizadas, não somente

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