PROTOCOLOS CLÍNICOS E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS

Autores: Elizabeth Lemos Silveira, Lúcia Mariano da Rocha Silla, Bárbara Corrêa Krug e Karine Medeiros Amaral Editores: Paulo Dornelles Picon, Maria Inez Pordeus Gadelha e Alberto Beltrame Os autores declararam ausência de conflito de interesses. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Portaria SAS/MS n o 55, de 29 de janeiro de 2010. Doença Falciforme 1 m etodologia de busca da literatura Para a análise de eficácia do tratamento específico para doença falciforme atualmente registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e, portanto, disponível para utilização e comercialização no Brasil, foram realizadas buscas nas bases descritas abaixo até 30/08/2009. Na base Medline/Pubmed: • “hydroxyurea” [ Substance Name ] AND “hemoglobin, sickle” [ Mesh ] limitadas a “humans, meta-analysis, randomized controlled trial, review, journal article” . Na base Scielo: • “hidroxiureia” e “doença falciforme”, limitadas a artigos originais. 2 I ntrodução Doença falciforme (DF) é uma condição genética autossômica recessiva resultante de defeitos na estrutura da hemoglobina (Hb) associados ou não a defeitos em sua síntese 1,2 . As hemoglobinopatias decorrentes de defeitos na estrutura da Hb são mais frequentes em povos africanos, e as talassemias causadas por defeitos na síntese, em povos do Mediterrâneo, da Ásia e da China 1,2 . Apesar desta predileção étnica, a DF está presente em todos os continentes como consequência das migrações populacionais 1-5 . No Brasil, que reconhecidamente apresenta uma das populações de maior heterogeneidade genética do mundo 6 , a maior prevalência da doença ocorre nas regiões Norte e Nordeste 7 . Indivíduos com DF obrigatoriamente herdam uma mutação materna e outra paterna. As mutações herdadas podem encontrar-se em estado homozigótico (SS), único genótipo que pode ser denominado “anemia” falciforme 4,5 , ou heterozigótico composto, ou seja, a doença é causada pela herança de HbS em combinação com outro defeito (estrutural ou de síntese) na Hb (SC, SD, SE, S betatalassemia, S alfatalassemia ou S mut rara). A maioria dos genitores de crianças com DF são heterozigotos simples, ou seja, apresentam um gene da HbA (normal) associado a um gene de Hb variante 1-5 . Não é incomum a identificação de DF em um dos pais durante a investigação familiar suscitada pelo nascimento de um filho diagnosticado através de triagem neonatal (teste do pezinho) para a doença 8-10 . A heterogeneidade mutacional e outras características genéticas do indivíduo relacionadas a fatores ambientais e sociais são responsáveis por um amplo espectro de manifestações e complicações clínicas de DF 1,4,8 , fato relevante que deve ser levado em consideração durante o complexo aconselhamento genético 10 , bem como durante o tratamento e o acompanhamento clínico dos pacientes e de suas famílias. O reconhecimento de que a DF é prevalente no Brasil 6,7 foi determinante para a instituição da Política Nacional de Atenção à Doença Falciforme (PNADF) do Ministério da Saúde 11 . Estima-se que 4% da população brasileira tenha o traço falciforme (heterozigose simples) e que 25.000-50.000 pessoas tenham a doença em estado homozigótico (SS – anemia falciforme) ou na condição de heterozigotos compostos (SC, SD, SE, S betatalassemia – doença falciforme) 7 . A HbS na forma desoxigenada perde sua complexa estrutura quaternária e adquire uma estrutura primária (polimerização hemoglobínica). A partir da polimerização, a HbS torna-se insolúvel, alterando a forma eritrocitária (que normalmente é um disco bicôncavo) para uma estrutura que lembra uma foice: fenômeno da eritrofalciformação. Os eritrócitos falciformados são fagocitados prematuramente pelo sistema monocítico- 233

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