Cirurgias oncológicas no RJ caem 25% após pandemia, diz DPRJ
18/08/2021
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) divulgou um levantamento, este mês, em que mostra que as cirurgias oncológicas no estado tiveram uma redução de 25% depois que a pandemia começou – no período de março a maio de 2020. Os tratamentos de câncer, com exceção de radioterapia e quimioterapia, também caíram 24,8%. Já as consultas ambulatoriais para esses pacientes foram reduzidas em 21,9% no primeiro trimestre da pandemia, comparada com o trimestre anterior. Os dados são da pesquisa "Assistência Oncológica do Estado do Rio de Janeiro durante a pandemia de Covid-19" realizada pela Coordenadoria de Saúde e Tutela Coletiva da DPRJ em parceria com Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para a pesquisa, a Defensoria também contou com dados de fiscalizações do CREMERJ.
O estudo verificou ainda o afastamento de profissionais de saúde durante o primeiro trimestre, redução de encaminhamentos às unidades de saúde, aumento de ausência de pacientes nas sessões de quimioterapia e necessidade de mudança de protocolo devido à falta de medicamentos. Para levantamento dos dados, foi elaborado um questionário on-line que foi enviado por ofício às unidades que compõem a rede de alta complexidade em oncologia do Sistema Único do Rio de Janeiro (SUS) no estado. Os dados solicitados no questionário são referentes ao trimestre anterior à pandemia (dezembro/2019, janeiro e fevereiro de 2020) e ao primeiro trimestre de pandemia (março, abril e maio de 2020).
Notou-se um percentual de afastamento de 14,6% de médicos, 15,5% de enfermeiros, 22,7% de técnicos de enfermagem, 12,5% de auxiliares de enfermagem e 26,5% de outros profissionais no período. No total de todas as categorias pesquisadas, foi visto um afastamento de 20,4% dos profissionais alocados em unidades especializadas em oncologia durante o período de março a maio de 2020. Este dado pode ter gerado um déficit no quadro de profissionais das unidades, levando a diversas mudanças na organização dos serviços, como: redução na oferta de serviços oncológicos, necessidade de realocação de profissionais especialistas em oncologia para outras funções, diminuição das atividades administrativas de alimentação de banco de dados para registro de atividades e captação de recursos, entre outros.
"A redução na oferta de ações assistenciais voltadas ao combate do câncer (consultas, cirurgias, radio e quimioterapia) em patamar semelhante de 20% revela como, mesmo diante da determinação de manutenção desse tratamento durante a pandemia pelas autoridades sanitárias, a Covid-19 impactou na garantia de atendimento às demais necessidades de saúde, confirmando a reiteradamente denunciada precarização das redes de atenção à saúde no estado do Rio de Janeiro", destacou a coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da DPRJ, Thaisa Guerreiro.
Dados do CREMERJ também foram levados em consideração para o estudo. No que diz respeito às deficiências na oferta de tratamento adequado para pessoas com câncer antes da pandemia, a DPRJ avaliou o relatório de vistorias feitas pelo Conselho, entre os anos de 2016 e 2019, que mostram que os leitos de cuidados paliativos não existem em 88% das unidades, sendo oferecidos de acordo com a demanda. Com relação aos leitos oncológicos, 44% das unidades afirmaram não possuir nenhum leito específico para casos de oncologia, sendo ofertados de acordo com a demanda; e 13 estabelecimentos afirmaram possuir leitos específicos, apresentando uma mediana de 20 leitos por unidade de saúde, variando de 6 a 77 leitos.
"É um cenário que muito nos preocupa. Os pacientes oncológicos não podem ter seu tratamento interrompido e a nossa saúde pública precisa garantir isso a eles. A pandemia trouxe impactos e precisamos de soluções", afirmou o presidente do CREMERJ, Walter Palis.
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