Clipping - Com salários atrasados, Hospital de Saracuruna opera com menos médicos
Extra Online /
22/07/2020
Após três meses com o braço imobilizado, o ajudante de manutenção Geovanni Silva dos Santos, de 37 anos, procurou o Hospital estadual Adão Pereira Nunes, o Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias, para realizar um procedimento agendado desde abril. Mas ele vai ter que esperar mais dois meses. Nesta quarta-feira, não havia profissional para atendê-lo.
- Fraturei o punho dia 10 de abril. Fiz cirurgia, fiquei internado e me agendaram para tirar o fio de Kirschner hoje. Quando cheguei, disseram que não estão fazendo esse atendimento. Marcaram para 23 de setembro. Vou ficar mais dois meses com o braço imobilizado. O que vou falar para a empresa? O jeito é procurar outro hospital - lamentou Geovanni.
Desde o dia 16 de julho - data em que a Prefeitura de Duque de Caxias assumiu a administração da unidade por meio de um termo de cooperação técnica entre prefeitura e governo do estado - profissionais trabalham sem saber quando vão receber e se vão continuar empregados. Segundo trabalhadores do hospital, nesta quarta-feira, havia apenas um médico atendendo na emergência e faltavam médicos em outros setores.
- Quem está atendendo na emergência é o chefe da equipe. Os CTIs 1 e 4 estão sem médicos. Está todo mundo com medo e acuado - contou uma enfermeira que, por medo, preferiu não se identificar.
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), junto ao Ministério Público do Trabalho, ingressou com ação judicial contra o Estado do Rio para que ocorram os pagamentos em atraso dos profissionais que trabalham no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, o Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias. A ação pede ainda que os valores sejam pagos diretamente pelo governo estadual e não por intermédios de OSs.
Os médicos da unidade poderão entrar em greve. A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Alexandre Telles:
- Os médicos já estão em estado de greve. Hoje, alguns médicos nos procuraram. Nesta quinta-feira, vamos realizar uma reunião com os médicos para discutir os rumos do movimento
Uma médica, que também não quis se identificar, disse que muitos colegas não estão indo trabalhar porque não sabem como vai ficar a contratação diante da nova gestão:
- Muitos de nós, médicos, não estamos mais indo. Como trabalhar sem saber para quem? Como trabalhar sem salário, sem ter sido demitido ou contratado? Precisamos de nossa demissão dentro lei e nossa eventual recontratação por CLT novamente. Até agora, ninguém do RH do Iabas nem da direção do hospital chamou a gente para falar oficialmente o que vai acontecer. Tento entrar em contato com o Iabas, mas o email retorna. Não tenho como trabalhar em um lugar sem saber para quem. É isso que tem acontecido com os chamados "heróis".
Quem continua indo ao hospital ainda está usando o sistema de biometria da unidade. Para muitos, essa é a garantia de provar que continuam trabalhando na unidade.
- A gente não sabe se vai receber por esses dias trabalhados desde que a prefeitura assumiu. Ninguém orientou a gente a continuar marcando a biometria, mas a gente está fazendo por conta própria. É um jeito de comprovar que a gente está aqui - disse uma enfermeira.
Quando a prefeitura assumiu a gestão, os funcionários do Iabas que trabalham no Hospital de Saracuruna já estavam com o salário de junho atrasado. Além de não saber quando vão receber, eles reclamam que o Iabas não deu baixa na carteira de trabalhos. Funcionários contaram que trabalhadores do Departamento Pessoal e Recursos Humanos do hospital foram comunicados que seriam substituídos. O mesmo ocorreu com coordenadores dos setores Fisioterapia, Serviço Social, Enfermagem.
Prefeitura de Duque de Caxias nega falta de médicos em CTIs
A Prefeitura de Duque de Caxias informou que a Secretaria estadual de Saúde é quem responde pelas pendências salariais com funcionários do Hospital de Saracuruna e por todas as questões anteriores à data de assinatura do Termo de Cooperação Técnica. Disse ainda que tem feito todo o esforço possível para retomar a excelência nos serviços prestados pela unidade e, especialmente, para tranquilizar os profissionais que trabalham no hospital. A prefeitura disse que criou uma empresa pública municipal que ficará responsável pela contratação desses profissionais, com todas as garantias trabalhistas previstas em lei. Sobre a contratação por regime CLT ou PJ, no caso dos médicos, informou que está estudando caso a caso, levando em conta a garantia dos direitos destes profissionais.
A prefeitura afirmou que a contratação desses profissionais, em todas os setores do hospital, levará em conta o quantitativo necessário para o pleno funcionamento do atendimento à população. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil negou a falta de médicos nos CTIs do Hospital de Saracuruna, assim como em outros setores de atendimento da unidade. Ressaltou ainda que o chefe da equipe de emergência é um profissional médico, apto a prestar o atendimento no setor.
Sobre o paciente Geovanni Silva dos Santos, a direção da unidade explicou que o médico que acompanha o paciente estava numa emergência (Vermelha) no centro cirúrgico e que a consulta foi remarcada para 23 de setembro, seguindo a orientação do pós-cirúrgico da unidade, a disponibilidade de agenda médica e a avaliação do quadro clínico do paciente, que foi orientado a buscar emergência do hospital em caso de alteração no seu quadro clínico.