Aviso de Privacidade Esse site usa cookies para melhorar sua experiência de navegação. A ferramenta Google Analytics é utilizada para coletar informações estatísticas sobre visitantes, e pode compartilhar estas informações com terceiros. Ao continuar a utilizar nosso website, você concorda com nossa política de uso e privacidade. Estou de Acordo

Clipping - Pista para cura da Aids reforça a importância das pesquisas genéticas

O Globo / Opinião

10/03/2019


Transplante de medula para contaminados por HIV abre novas possibilidades aos pesquisadores

 

A história da Ciência tem diversos relatos de avanços conseguidos ao acaso. Em certa medida é o que acontece com dois contaminados por HIV, tratados de outras doenças com o transplante de células-tronco de medula e que se viram livres do vírus. A primeira das duas pessoas é o americano Timothy Brown, conhecido nos textos médicos como o “Paciente de Berlim”, que foi submetido ao transplante há 12 anos.

Brown, contaminado por HIV, e depois de se tratar com sucesso durante uma década com retrovirais, contraiu uma leucemia e recebeu o transplante de um doador. Só não se sabia que este tinha uma mutação genética, já detectada em pesquisas, que o tornava imune ao HIV. E assim o “Paciente de Berlim” tornou-se resistente ao vírus.

O outro caso, anunciado na segunda-feira passada, é de um homem em Londres que repetiu a experiência de Brown. O já chamado “Paciente de Londres”, contaminado por HIV, foi diagnosticado com Linfoma de Hodgkin, recebeu doação de células-tronco de medula de alguém também resistente ao HIV. Os exames não detectam mais o vírus HIV, e ele há 18 meses já não recebe antiretrovirais, responsáveis por retardar o desenvolvimento da Aids.

Parece, mas nada é simples. Depois de Brown, pesquisadores seguiram o mesmo roteiro com infectados por HIV, mas não tiveram êxito. Ou seja, não basta fazer transplantes em série com medulas de pessoas geneticamente protegidas contra o HIV.

A coincidência dos dois casos na verdade abre uma trilha para os pesquisadores. Isso aumenta ainda mais o peso da já importante pesquisa genética e de células como um fator determinante da possível cura de uma série de doenças geralmente devastadoras.

Os retrovirais são um avanço inegável, mas a doença persiste. Esses medicamentos, por serem eficientes, chegam a levar pessoas de grupos de risco a relaxarem nos cuidados. Portanto, a cura da doença é meta perseguida nos laboratórios. Uma das novas fronteiras em exploração pela Ciência, essas pesquisas envolvem questões éticas, não desprezadas por cientistas, mas também costumam despertar temores dogmáticos, de fundo religioso, que, mostra a História, tentam retardar o avanço do próprio conhecimento humano. É o que acontece com as pesquisas em torno das células-tronco embrionárias, uma área específica de investigação científica, felizmente um trabalho protegido no Brasil por decisão do Supremo Tribunal.