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Clipping - Médica enfrenta Marcelo Crivella e diz que clínica não tem nem dipirona

O Globo / Rio

01/12/2017


Prefeito pede a ela que fique tranquila porque ‘não há crise na saúde’

O apelo emocionado de uma médica ao prefeito Marcelo Crivella ecoou como um grito de socorro da saúde municipal. Durante uma visita a obras do Programa Favela Bairro, na Favela Furquim Mendes, no Jardim América, o prefeito foi pressionado por funcionários de uma clínica da família que fica próximo ao local.

— Eu espero que o senhor olhe por essa população. Eu sou médica de medicina da família. Tem muita gente aí que não tem R$ 3 para comprar uma dipirona, e a gente não tem para oferecer — disse, emocionada, a profissional, que rejeitou “um beijinho” do prefeito e o chamou de mentiroso.

Em resposta, Crivella disse para a médica ficar “tranquila” e afirmou, categórico, que “não há crise na saúde”. Ele argumentou que, se falta dipirona nas clínicas da família, não falta nos hospitais municipais. Segundo o prefeito, a crise é das organizações sociais contratadas para administrar as unidades básicas de saúde da prefeitura.

— Souza Aguiar, não tem crise. Miguel Couto, não tem crise. Salgado Filho, não tem crise. Não há crise nos nossos grandes hospitais. Mas Rocha Faria, Pedro II e Albert Schweitzer são OSs — disse o prefeito.

— Mas o paciente morrendo não espera a crise da OS se resolver — respondeu a médica.


Na tentativa de amenizar o mal-estar, o prefeito anunciou que comprou R$ 100 milhões em medicamentos e insumos para toda a rede de saúde:

O que nós estamos fazendo é um esforço tremendo porque o município, vocês sabem, pela roubalheira que houve no passado, muita gente presa... Nós encontramos o município numa situação difícil. Mas vai tudo se resolver.

HOSTILIZADO EM DOIS PROTESTOS

Crivella enfrentou ontem duas manifestações de funcionários da saúde. Após a discussão com a médica, funcionários do Centro Municipal de Saúde Nagib Jorge Farah, no Jardim América, receberam o prefeito com um grito de guerra: “Crivella, não tire a saúde de dentro da favela”.

À tarde, ele esteve numa escola no Complexo do Alemão. Ninguém sabia da visita, mas moradores da região e funcionários de uma clínica da família próxima organizaram rapidamente uma manifestação com faixas em defesa da saúde na saída do prefeito.

Há um mês, as 117 unidades da rede básica de saúde — que cuidam de mais de dois milhões de cariocas — estavam funcionando com apenas 30% de suas equipes por causa dos atrasos de salário. A partir desta semana, o atendimento passou a ser feito por 50% do pessoal. Além dos problemas nos pagamentos, as clínicas e os postos sofrem com a falta de medicamentos e insumos. Em nota, a prefeitura informou que não haverá fechamento de qualquer unidade e que está “empenhada em garantir o pagamento dos salários e do 13º dos profissionais que atuam nas unidades geridas pelas organizações sociais”.

O vereador Paulo Pinheiro (PSOL), integrante da Comissão de Saúde da Câmara, disse não ter dúvidas de que a crise atinge toda a rede municipal:

— Penso que o prefeito está mal informado. Se ele diz que não tem crise, eu digo o contrário. A crise é do programa municipal de saúde. Faltam insumos e medicamentos em todos os hospitais geridos pela administração direta. A diferença é que as OSs não estão pagando o salário; já a prefeitura não deixou de pagar os estatutários, mas não deu reajuste nem pagou o 14º salário, como acontecia anteriormente — ressalta o vereador, que esteve anteontem no Hospital Municipal de Piedade e encontrou 54 dos 140 leitos fechados e a farmácia da unidade com apenas 30% dos medicamentos nas prateleiras