Publicação científica trimestral do CREMERJ - volume 3 - número 1 - 2024

20 O Mesentério e a Mesenterite Marta Carvalho Galvão Med. Ciên. e Arte , Rio de Janeiro, v.3, n.1, p.19-27, jan-abr 2024 como órgão e como uma plataforma onde outros órgãos (fígado, baço, intestino e pâncreas) se desenvolvem nele ou sobre ele, sendo, portanto, estruturas mesentéricas em sua origem embrionária e posição ana- tômica, com suas vasculaturas associadas. A continuidade mesentérica e sua conexão direta com cada órgão digestivo abdominal passa a compreender uma unidade anatô- mica – estas características o diferenciam do peritônio. Assim, ele não é apenas uma estrutura de fixação de alças, possuindo funções próprias vitais e especializadas, sendo rico em adipócitos que produzem proteína C-reativa, interferindo também com o metabolismo glicêmico e lipídico. (1) Não tem sido infrequente os clínicos e gastroenterologistas serem procurados por pacientes que, ao se submeterem a uma tomografia computadorizada do abdome pelas mais diversas indicações, serem surpreendidos por um apontamento no laudo sugerindo a presença de “mesente- rite”, “aumento da atenuação da gordura mesentérica” ou “infiltração da raiz do mesentério”. A mesenterite é, portanto, um diagnóstico predominantemente ra- diológico. Do ponto de vista prático o clí- nico encontra-se usualmente frente a uma destas possibilidades: a) Trata-se de uma infiltração mesentérica secundária a um processo inflamatório e/ou infeccioso loco-regional manifesto clínica e/ou tomograficamente, como por exemplo apendicite aguda, doença inflamatória intestinal, pancreatite etc. funções. Ele produz mais de 50 citocinas, incluindo adiponectina, resistina, adipofili- na, grelina, e grande número de enzimas. (1,2) É, pois, uma plataforma anatômica na qual todos os órgãos digestivos são inte- grados a elementos linfático, vascular e neurológico. Ele suporta o desenvolvimento embriológico de todos os órgãos abdominais digestivos. O mesentério é um folheto duplo de peritônio que conecta o intestino à parede posterior do abdome. Já havia sido descrito em 1508 por Leonardo da Vinci, e desde então permaneceu por séculos como apenas uma parte do sistema digestório. Convencionalmente acreditava-se que havia múltiplos mesentérios conectados à linha média posterior. Hoje sabemos que o mesentério é con- tínuo do delgado ao cólon, dele fazendo parte os mesocólons direito e esquerdo, o mesossigmoide e o mesorreto, tendo inter- face com outros órgãos da economia através do seu “hilo”. (2) Acredita-se que esta descoberta per- mitirá categorizar as doenças abdominais que acometem o mesentério e, uma vez bem estabelecidas sua anatomia e estrutura, permitirá também que se conheça suas outras funções, por ora desconhecidas. (1) O reconhecimento do mesentério como estrutura contínua passa a identificar um modelo no qual os órgãos abdômino-pélvi- cos são organizados num domínio mesen- térico ou não mesentérico. Isto o categoriza

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