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Na Mídia - Guandu faz hoje testes da aplicação de carvão na água

O Globo Online /

23/01/2020


Witzel promete solução em uma semana; morador diz que gasto com garrafas e filtros já supera valor de conta da Cedae

RIO - Três semanas após a água passar a chegar turva e com cheiro e gosto de terra às casas dos consumidores da Região Metropolitana, a Cedae vai começar a usar hoje carvão ativado na Estação de Tratamento do Guandu. O produto deverá reter a geosmina, substância orgânica produzida por algas que teria alterado a água distribuída. A empresa explicou que ainda realiza testes operacionais antes de acionar o sistema, que terminou de ser montado na quarta-feira.

O tratamento contínuo da água com carvão deve entrar em operação amanhã. A Cedae não informa, no entanto, quando o abastecimento estará normalizado. Segundo a empresa, isso vai depender da caixa d’água de cada moradia. Já o governador Wilson Witzel prometeu ontem a uma moradora de Bonsucesso, onde ele participou do lançamento de uma etapa do programa Segurança Presente, que a situação da água fornecida pela Cedae será resolvida em, no máximo, uma semana.

A aplicação de carvão ativado é um procedimento já utilizado em outros estados, como São Paulo, Bahia e Rio Grande do Sul. Especialista em Saneamento Ambiental e professora da Escola Politécnica da UFRJ, Iene Christie Figueiredo ressalta que o uso do carvão é uma solução pontual para adequar as características da qualidade da água aos padrões de sabor e odor. Na opinião dela, essa adição deverá ser intermitente, sendo necessária sempre que o manancial apresentar elevação de concentração de algas.

A presença da geosmina na água também preocupa médicos. Segundo o pediatra André Luiz da Costa, integrante do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), pouco se sabe sobre os reais riscos causados pela substância, mas ele é categórico ao afirmar que não se deve deixar que crianças — e muito menos recém-nascidos — entrem em contato com essa água.

— Este tipo de contaminação é muito pouco conhecido. Pelo menos nos últimos 30 anos, não me lembro de nada desse porte acontecendo. Como o seguro morreu de velho, não recomendamos o uso desta água com cheiro por nenhuma criança ou recém-nascido — afirmou.

Caso não seja possível comprar água mineral, o médico recomenda que a água seja fervida após passar pelo filtro:

— Enquanto não tivermos uma correção do problema na fonte da água que chega às nossas casas, não recomendo essa água nem para banho.

Despesa alta

Mas esse cuidado tem um custo. E alto. O aposentado José Luiz Antunes, de 67 anos, já sente no bolso os efeitos da crise de abastecimento. A conta da Cedae no valor de R$ 234, que vence no início de fevereiro, já chegou à casa do morador de São Cristóvão. Nos cálculos dele, o gasto com água mineral foi maior.

— Só hoje, comprei 24 garrafas pequenas e 24 grandes. A despesa foi de R$ 90, mas já tinha comprado água antes, fora o refil do filtro elétrico e um pré-filtro. Com certeza, já passou o valor da conta. O preço de tudo está um absurdo. Com essa água que está chegando aqui, só dá para lavar o carro e a roupa, e muito mal — disse.

Sem condições financeiras, a dona de casa Adinilce Alves Assis, de 48 anos, só tem conseguido comprar água mineral para a neta Nicole, de 7 anos. Ela, o marido e os dois filhos têm consumido a água do filtro. Recentemente, a menina teve uma crise alérgica grave depois de tomar banho numa banheira com a água da bica e precisou ser atendida três vezes em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA). A avó contou que os médicos não associaram os sintomas à qualidade da água fornecida pela estatal, mas, com medo, ela tem preferido tomar mais cuidados.

— Há mais ou menos uma semana, a água começou a ficar com gosto e cheiro estranhos aqui em casa. Eu fervo a água para ela tomar banho e para a gente beber e cozinhar também. Depois, eu ainda congelo. Só então, bebemos. Comprei água mineral só para ela, porque, se eu for comprar para todo mundo, vou falir — conta Adinilce.