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Na Mídia - Emergência do Hospital de Bonsucesso tem mais seguranças do que médicos atendendo

Extra Online /

03/07/2019


O plantão da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) tinha, nesta terça-feira, mais vigilantes do que médicos. Na porta do setor, trabalhavam três seguranças de terno e gravata, enquanto, na parte de dentro, dois médicos se desdobravam para atender 43 pacientes internados. O sufoco era ainda maior na ala pediátrica - não havia nenhum médico. O setor conta com apenas quatro profissionais para os sete dias da semana. Diante desse quadro, que se arrasta há pelo menos dois anos e piora a cada dia, a Defensoria Pública da União (DPU) entrou com uma ação na Justiça contra o governo federal.

- As instalações estão novas, melhores que as de muitos hospitais privados, mas não tem médico. Minha amiga está internada na emergência há uma semana e só entrou porque chegou desacordada. Mesmo sem estar lúcida e sentindo forte dor na barriga, ela ficou sentada por dois dias numa cadeira de plástico na sala de medicação, que está superlotada. No domingo, quando não havia médico algum, ela piorou e foi para a sala vermelha - lamenta a cabeleireira Gisele Ferreira, de 43 anos.

De janeiro para cá, o número de clínicos e pediatras na emergência caiu de 47 para 27, diante dos pedidos de demissão. A sala amarela, aberta no ano passado sem a contratação de intensivistas, está sendo fechada, e os últimos quatro pacientes aguardam vaga em outros setores.

Segundo o defensor público da União Daniel Macedo, o Ministério da Saúde não cumpriu liminar que determina cobrir um déficit de 4.040 médicos e demais profissionais de saúde nos seis hospitais da rede no Rio.

"O alegado cumprimento da decisão é apenas aparente", afirma a petição da DPU, que prossegue: "A alegação de contratação temporária de 4.040 profissionais de saúde, sem um ponto de referência, em nada comprovou o cumprimento da decisão".

- Pedimos que, no prazo de 15 dias, a União apresente documentos que detalhem o quadro de profissionais em cada unidade - diz Macedo.

A ação, que tem como coautores o Cremerj e o Conselho Regional de Enfermagem do Rio, pede também que o Ministério da Saúde indique o número ideal de médicos por especialidade e por tipo de vínculo em cada unidade hospitalar federal no Rio, além de apresentar propostas de ação para melhorar o atendimento e a gestão dos seis hospitais, elaboradas pelo Comitê Gestor da Ação Integrada dos Hospitais Federais do Rio de Janeiro.

O defensor público ressalta ainda que, em acordo homologado por sentença, dentre as cláusulas, foi estabelecido que o Ministério da Saúde estava obrigado a manter a produção cirúrgica de 2008 nos hospitais federais. Mas dados obtidos pela DPU revelam uma queda de 34% no número de operações entre 2008 e o ano passado. No Hospital Federal da Lagoa, a redução foi de 70%.

Para a nutricionista Luciana Matera, de 33 anos, que está com o sogro internado desde o dia 13 na emergência do Bonsucesso, não há explicações para tamanho descaso:

- Meu sogro tem 63 anos e retirou uma pedra que estava entre a vesícula e o pâncreas. Ficou sentado por três dias numa cadeira de plástico na sala de medicação. Passou sábado e domingo sem médico no setor. Ele acabou piorando e foi levado para a sala vermelha. Está em coma induzido. Do que adianta ter todas as instalações novinhas, se não tem médico? É uma vergonha isso acontecer num hospital federal deste tamanho - diz Luciana.

Segundo ela, dois médicos vêm se desdobrando para dar conta de todos que estão internados:

- Mas às quartas, só há um médico e ele já avisa que não pode parar para falar com os familiares dos pacientes. Eles tentam, mas não conseguem fazer milagres.

O que diz o Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde informou que o Hospital Federal de Bonsucesso "está tomando as providências cabíveis para recompor a equipe médica da emergência, que atualmente realiza atendimentos com um quadro de 17 clínicos, quatro pediatras, 16 cirurgiões e 16 ortopedistas". De acordo com a direção do hospital, nenhum paciente internado no setor está sem assistência médica.

O ministério informou também que realiza o recadastramento presencial dos funcionários das unidades federais no Rio, para realocá-los, caso haja disponibilidade, em serviços que apresentem deficit de profissionais.

Sobre a previsão de contratação de funcionários para o HFB, o Ministério da Saúde disse que permanece aberta a renovação de Contratos Temporários da União (CTU) vigentes e de novas contratações para inscritos no último concurso, de março de 2018.

Documentos da direção do HFB enviados ao Ministério da Saúde, no entanto, pedem providências, já que todos os candidatos do último concurso já foram chamados e a maioria recusou a contratação.