Na Mídia - Hospital Getúlio Vargas sofre intervenção
Extra / Cidade
03/08/2018
Apesar de não estar falando nem se alimentando, idoso tem alta e morre em seguida
Um dia após a morte da paciente Irene de Jesus Bento, de 54
anos, no Hospital estadual Getúlio Vargas, vir à tona, outra família acusa a
unidade de negligência. Fabiane Lacerda contou, em entrevista ao “Bom Dia Rio”,
da TV Globo, que, no último sábado, o sogro, José Emídio, de 80 anos, levou um
tombo em casa e foi levado para o hospital da Penha. Ele teve uma fissura no
nariz e, na segunda-feira, recebeu alta, apesar de não estar falando, andando
nem se alimentando. O idoso morreu pouco tempo depois.
As denúncias levaram a Secretaria estadual de Saúde (SES) a
criar uma comissão para intervir no Getúlio Vargas. Formada por cinco
funcionários da secretaria, entre eles o subsecretário de Atenção à Saúde,
Charbel Khouri Duarte, a comissão vai reavaliar os protocolos assistenciais e
de classificação de risco da unidade. Em 15 dias, o grupo deve produzir um
relatório, que vai apontar se houve falhas no caso da paciente Irene de Jesus
Bento, que morreu no último sábado, após ter sido rejeitada na emergência
elevada para a UPA que fica na frente do hospital, de onde voltou ao ter o
quadro agravado. Irene foi a óbito com acidose metabólica grave.
—É o desfecho da descompensação do diabetes. Deveria ter
sido atendida imediatamente. Houve falha na classificação de risco no Getúlio. E
a médica não foi até a paciente, mandou para a UPA. Esse jogo de empurra com os
pacientes, que ficam de um lado para o outro, não é novo. O hospital e a UPA
são administrados por organizações sociais diferentes e não há interação entre
os gestores — diz um médico que trabalhou no Getúlio Vargas e não quer ser
identificado.
Médica é afastada e Cremerj investiga
A dona de casa Monique Fernanda da Silva experimentou ontem
esse jogo de empurra. Com dificuldade para respirar, tentou atendimento em
várias unidades, inclusive no Getúlio Vargas. Por último, buscou o Hospital
Carlos Chagas. Saiu de lá com a orientação de que procurasse a UPA de Marechal
Hermes.
A SES informou que afastou todos os envolvidos no caso da
paciente Irene de Jesus Bento. O Cremerj
também abriu um processo para investigar o atendimento
prestado no Getúlio Vargas.
Apesar das queixas de pacientes, a SES afirmou que o
Getúlio Vargas e outras unidades estão abastecidas e com pagamentos de
contratos em dia. “A maior alocação de recursos na Saúde em 2018 possibilitou o
pagamento de serviços que estavam em atraso e a regularização de dívidas. À
medida que o aporte de recursos na área da Saúde é ampliado, há crescimento no
número de atendimentos e oferta de serviços.”
Estado deve R$ 6,2 bi na Saúde
A gravidade da crise na Saúde pode ser traduzida em
números. Embora o secretário estadual de Saúde, Sérgio D’Abreu Gama, tenha
afirmado ontem que “não faltam recursos” ao setor e que “todos os contratos
estão em dia”, o governo do Rio começou o ano com dívida de R$ 6,2 bilhões com
fornecedores e prestadores de serviço da Saúde. É a maior entre todas as áreas,
superando até a da Segurança Pública.
Com isso, o total da receita do estado aplicado em Saúde só
faz cair. No ano passado, foi de R$ 1,9 bilhão, quase a metade dos R$ 3,7
bilhões investidos em 2014, antes do auge da crise. Os números constam de um
relatório do Ministério Público do Rio (MPRJ) e refletem as dificuldades
enfrentadas por pacientes nos hospitais da rede estadual — entre eles o Getúlio
Vargas.
Nas unidades de saúde, o quadro se revela diferente do que
afirma o secretário. Ontem, Severina Lima Batista, de 75 anos, deu entrada às
10h no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, contorcendo-se de
dor, devido a uma pedra na vesícula, com indicação de cirurgia. Numa maca, às
17h, ela estava do mesmo jeito que chegou.
— Querem esperar que a pessoa morra para depois dar
condolências? É muita desumanidade — protestou a filha dela, Telma Maria
Batista, que a acompanhava.