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Na Mídia - Nova emergência do Bonsucesso tem sala trancada com cadeado

Extra / Cidade

27/03/2018


Comissão de deputados relata atendimento precário e serviços inoperantes

Inaugurada em 28 de fevereiro, há apenas 26 dias, a nova emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), na Zona Norte, continua com as salas amarela — para pacientes intubados e monitorados — e vermelha fechadas. Com cadeados. Foi o que constatou ontem a Comissão Externa da Câmara dos Deputados durante visita à unidade. Muitos pacientes foram vistos espalhados pelos corredores.

O corpo médico do HFB denuncia desde a semana passada a falta de profissionais no setor. Na última sexta-feira, o Ministério do Planejamento autorizou a contratação de 3.592 funcionários temporários para os seis hospitais federais no Rio e dois institutos, o de Cardiologia e o de Ortopedia. Médicos e profissionais de enfermagem serão selecionados num certame simplificado para substituir outros temporários que estão saindo. São 3.453 contratos vencendo no primeiro semestre deste ano. Além disso, somente no segundo sestre do ano passado, de acordo com a comissão dos Deputados, estava prevista a demissão de 262 médicos e 320 profissionais de enfermagem. Por isso, não se trata de aumentar a força de trabalho, mas repôr quem está saindo.

— A contratação tem que ser para ontem. Essa emergência foi aberta de forma irresponsável. O povo não quer prédio, quer atendimento. Hoje, só tinha um clínico para atender 50, 60 pessoas — disse a deputada Jandira Feghali.

Pacientes em cadeiras

Levantamento feito por consultoria contratada pelo Ministério da Saúde, em parceria com a direção do HFB, apontou que faltam aproximadamente 950 funcionários para a emergência e enfermarias de retaguarda (que recebem pacientes da emergência), entre médicos e outros profissionais de saúde e administrativo.

Enquanto a situação não é resolvida, pacientes e familiares sofriam, ontem, para conseguir atendimento no Bonsucesso. A mãe da dona de casa Cristiane Morgado, de 42 anos, foi internada na quintafeira na unidade com infecção urinária. Segundo ela, Maria das Graças Felipe da Silva, de 63 anos, ficou numa cadeira por três dias.

— Apenas no domingo, colocaram minha mãe numa maca dentro de um consultório. Quero tirá-la daqui, mas não tenho para onde levá-la. É uma sensação de impotência — reclamou Cristiane, que mora em Marechal Hermes.

O pai do cozinheiro Jaime da Silva, de 38 anos, teve um derrame na madrugada de ontem e foi levado para o HFB. Segundo o filho, o aposentado de 62 anos passou quase 12 horas sem ao menos trocarem a fralda dele.

— Meu pai está sendo atendido no corredor. Está horrível! — disse Jaime.

No Andaraí, setores fechados

A Comissão de Deputados também esteve ontem no Hospital Federal do Andaraí, na Zona Norte. Por lá, a situação também foi classificada como caótica. A emergência estava com apenas cinco leitos funcionando, sendo que o o normal seriam dez. Os setores de cardiologia e pneumonologia estavam fechados, e havia reclamação de falta de médicos, de acordo com os deputados.

— O governo tem que decidir logo esse planejamento para a contratação. Os hospitais estão com deficiência. É um absurdo e temos que cobrar — afirmou Gil Simões Batista, conselheiro-secretário do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj).

O Departamento de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde (DGH/MS), que coordena os seis hospitais federais no Rio, informou que aguarda a conclusão do processo para contratação dos profissionais temporários.

“O pedido está em tramitação no Ministério do Planejamento e estima-se que as contratações sejam autorizadas ainda neste mês de março”, afirma a nota. O ministério afirmou ainda que já foi autorizada a contratação de 35 profissionais de saúde para início imediato no HFB. Para essas vagas, por enquanto, foram contratados seis médicos e 11 profissionais de saúde, como enfermeiros e técnicos de enfermagem, aprovados no último certame, feito há quatro anos.

Mais doentes e menos médicos no plantão

A nova emergência do Hospital Federal de Bonsucesso, com 3.500 metros quadrados, foi inaugurada com a mesma equipe escalada para atuar nos 260 metros quadrados dos três contêineres, onde a emergência funcionou por sete anos.

A notícia da inauguração fez com que a demanda aumentasse e lotasse a sala de espera. Em contrapartida, em menos de três semanas, a nova emergência perdeu seis médicos. Todos pediram demissão diante de tantas dificuldades de trabalho.

— Há seis meses, tínhamos cerca de 40 clínicos na emergência. Hoje, são 12. No último dia 13, um clínico concursado, após ter dado plantão noturno sozinho, pediu exoneração. São 12 horas tendo que escolher quem vai usar o respirador, quem será monitorado, quem tem mais chance de viver. As pessoas saem dos plantões destruídas — desabafou um médico.

O Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que o HFB está funcionando “com toda a capacidade que já dispunha anteriormente, mas agora em melhores condições de estrutura física e material para os pacientes e os profissionais”.