Na Mídia - Internação de mãe de Crivella é investigada
Extra / Cidade
18/02/2018
Aposentada foi operada ontem no Salgado Filho, e pacientes denunciam que ela furou fila.
A mãe do prefeito Marcelo Crivella foi submetida a um
procedimento cirúrgico, na manhã de ontem, no Hospital municipal Salgado Filho,
no Méier. A internação de Eris Bezerra Crivella causou revolta de pacientes que
estão internados na unidade hospitalar. Isso porque, de acordo com
acompanhantes, a mãe do prefeito teve tratamento diferenciado. A secretaria
nega qualquer regalia.
Parentes da aposentada Angela de Oliveira, de 72 anos,
internada no hospital desde 23 de janeiro à espera de cirurgia, estão revoltados
com a notícia de que a mãe do prefeito teve preferência para receber tratamento
médico. Segundo filho Alexander Mendes de Oliveira, de 43, logo na manhã de
ontem equipes da unidade esvaziaram um dos leitos do hospital, onde se
encontravam outros dois pacientes, para receber a mãe do prefeito.
— Eles tiraram os pacientes, fizeram uma limpeza em tudo e
prepararam o quarto para receber a mãe do prefeito, que foi direto para o
préoperatório. Enquanto isso, minha mãe, que tem câncer de mama e osteoporose,
espera há 25 dias por uma cirurgia para colocar uma prótese no fêmur. Estou
revoltado com isso. A mãe do prefeito não é mais importante do que a minha.
Todos merecem tratamento — diz.
A direção do Hospital municipal Salgado Filho disse que
Eris deu entrada com fratura radio distal esquerda desviada (no punho).
“Como toda fratura articular desviada em pacientes idosos,
trata-se de uma cirurgia de urgência, ou seja, exige intervenção rápida. As
cirurgias de urgência e emergência estão sendo realizadas regularmente na
unidade e não há falta de insumos ou profissionais”, alegou o hospital.
De acordo com a unidade, “não procede a informação de que
outros pacientes tenham sido retirados do quarto andar, onde funciona a
ortopedia”: “O setor tem 46 leitos e, no momento, dois estão desocupados (os
ocupantes acabaram de ter alta) e sendo preparados para receber outros
pacientes”.
‘É abuso tirar vaga de pobre’
Ainda segundo Alexander, a cirurgia da mãe foi adiada
várias vezes por falta de insumos médicos básicos:
— Na semana passada, eles preparam minha mãe para fazer a
cirurgia, mas tiveram que cancelar, segundo os médicos, porque a unidade tinha
acabado de receber baleados, que precisavam ser operados com urgência.
Samantha Lockmann, de 42, que acompanha a sogra da mãe, Júlia
Nunes, de 99, conta que a paciente deu entrada há 25 dias com infecção
urinária, que evoluiu para um quadro infeccioso grave. Hoje, aguarda vaga na
enfermaria, sem previsão:
— Hoje (ontem) me informaram que não iriam fazer
atendimento na Ortopedia porque iriam operar a mãe do prefeito. Isso é um abuso
de poder. Tirar vaga de gente pobre, que acaba ficando no
corredor.
Segundo Samantha, o quarto em que a mãe do prefeito ficará
após a cirurgia fica no quarto andar.
— Hoje (ontem), estavam fazendo a limpeza, lavando o piso e
até as paredes. Eram cerca de seis funcionários da Comlurb. Nunca vi isso aqui.
REPORTAGEM DE:Vera Araújo, Bruno Dutra e Marcos
Nunes
Comissão pede informações sobre cirurgia
Na noite de sexta-feira, a comissão de saúde da Câmara dos
Vereadores e a Defensoria Pública estadual começaram a receber denúncias de
funcionários do Salgado Filho sobre o possível tratamento diferenciado no
atendimento a Eris Crivella. Segundo relatos, uma enfermaria do hospital estava
sendo esvaziada para receber uma paciente que seria submetida a uma cirurgia
eletiva, passando à frente de outros que aguardavam pelo procedimento na fila
do SUS.
— Vários funcionários enviaram denúncias e, por isso,
liguei para o secretário de saúde e solicitei a ele, verbalmente, que nos envie
até segunda-feira um relatório do que aconteceu. Precisamos saber que cirurgia
foi feita, qual plantonista fez a operação e que tipo de material foi usado, já
que há muitas cirurgias foram suspensas no Salgado Filho por falta de material
ortopédico — diz o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), presidente da comissão.
O Conselho Regional de Medicina
(Cremerj) vai abrir uma sindicância amanhã para apurar se houve
privilégio no atendimento.
A direção do hospital nega que dona Eris tenha passado à
frente na fila do SUS. “Em um hospital de grande emergência, a prioridade de
atendimento e cirúrgica é sempre para os casos de maior risco”, diz, em nota.
Após se recuperar do efeito da anestesia, a idosa recebeu
alta ontem à tarde.