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Na Mídia - Crivella: violência impede chegada de medicamentos

O Globo / Rio

26/01/2018


Prefeito alega problema de logística em áreas violentas; entidades criticam

O prefeito Marcelo Crivella fez ontem uma sugestão para acabar com a falta de medicamentos nas clínicas da família que ficam em áreas de risco: ele propôs aos diretores dessas unidades que fossem por conta própria à central de distribuição do município, em Jacarepaguá, buscar os remédios. A declaração foi dada dois dias depois de Crivella ser hostilizado por profissionais de saúde de um posto na Maré, durante uma visita à comunidade. Não é de hoje que o clima entre o prefeito e os funcionários das unidades administradas por organizações sociais (OSs) anda tenso. Em dezembro, uma médica cobrou de Crivella a falta de dipirona e o pagamento de salários. Quase dois meses depois, pouca coisa mudou. Os técnicos das clínicas estão em greve parcial, e os médicos entram no movimento a partir de segunda-feira.

Eu me reuni com os 117 gerentes de clínicas das famílias e fiz o apelo para que, se pudessem, fossem a Jacarepaguá pegar medicamentos. Se por questão de logística, por algumas clínicas estarem em locais de domínio do narcotráfico, houver problema na distribuição, que eles pudessem ir ao depósito. Há remédios no depósito. Basta ir lá — disse Crivella, ao acompanhar a campanha de vacinação contra a febre amarela na Clínica Estácio de Sá, no Rio Comprido.

 

‘ISSO É ALGO INUSITADO’

Em relação a salários atrasados, a recomendação do prefeito foi ter paciência:

— Os salários estão atrasados 15 dias. É horrível. Não queríamos atraso, mas com a crise que vivemos é uma coisa que precisamos suportar e ter paciência.

Reações indignadas vieram não só de profissionais lotados em clínicas da família, como de entidades de classe e até de moradores de comunidades. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), Nelson Nahon, destacou que é obrigação da prefeitura manter as suas unidades de saúde abastecidas.

— O médico, o dentista, o enfermeiro, o técnico trabalham todos os dias em clínicas em áreas de risco. Como um outro funcionário da prefeitura não pode entrar numa comunidade? Isso é algo inusitado — afirmou Nahon, acrescentando que empresas de serviços de imagem (como raios X e ultrassom) estão sem receber há oito meses e poderão deixar de prestar o atendimento em clínicas da família.

Já a médica Valeska Antunes, que trabalha desde 2010 na Clínica Victor Valla, em Manguinhos, destacou que, ao propor que gerentes peguem medicamentos e insumos na central da prefeitura, Crivella está descumprindo normas da Vigilância Sanitária:

— Quer que os gerentes busquem o material nos seus próprios carros? De ônibus? Isso é um absurdo. Remédios e insumos têm que ser transportados adequadamente, obedecendo a cuidados para que possam fazer o efeito que se espera. O que a prefeitura precisa é apresentar o seu estoque. O que se sabe é que há muitos itens em falta.

Médico do Centro de Saúde Samora Machel, na Favela Nova Holanda, na Maré, Carlos Vasconcellos faz coro:

— O prefeito está tentando tapar o sol com a peneira, jogar a responsabilidade. Remédios e insumos são bens públicos, que têm de ser transportados bem acondicionados e a uma temperatura adequada. Quem trabalha com atenção básica sabe que tem que atuar em comunidades e não quer sair de lá. Ninguém reclama, embora ache que a segurança precisa chegar. Entendemos que todos têm direito à atenção básica.

Moradora da Nova Brasília, no Complexo do Alemão, há 36 anos, a artista plástica Mariluce Mariá disse que Crivella está dando uma desculpa para a falta de remédios:

— Que risco é esse que um político pode entrar e um entregador da prefeitura não pode? O prefeito já esteve aqui. Além disso, nossas clínicas ficam em vias principais. Isso é desculpa.

O município é dividido em dez áreas programáticas. Segundo o Sindicato dos Médicos, apenas em três delas os funcionários tiveram o salário de dezembro quitado. Nas 1.217 equipes de saúde da família, trabalham seis mil profissionais. Desse total, estima a entidade, cerca de 80% estão sem receber:

Desde agosto do ano passado, os pagamentos estão vindo em atraso. As informações são que os salários de fevereiro também atrasarão — disse Alexandre Telles, diretor do sindicato.

 

FALTA REMÉDIO ATÉ NO CENTRO

 Telles também criticou a sugestão de Crivella para que os funcionários retirem os medicamentos:

A falta de medicamentos nas unidades continua existindo. Compete à prefeitura a distribuição. E não é uma verdade que são problemas pontuais. Temos clínicas no Centro, fora de área de perigo, que sofrem com a falta de medicamentos. É a desorganização da prefeitura. Faltam medicamentos para hipertensão e antibióticos. Eles não chegam na ponta. Só se estiverem guardados no gabinete dele.