Na Mídia - Clínicas populares oferecem exames até 80% mais baratos
Extra / Cidade
15/01/2018
Presentes
em shoppings e mercados, as unidades de saúde têm pacotes anuais com consultas
por R$ 10 e análises laboratoriais gratuitas. Marcações podem ser feitas por
WhatsApp.
Desde que sua mãe perdeu direito ao plano de saúde no qual
era dependente de um dos filhos, há cerca de um ano, a manicure Eliane da
Silva, de 51 anos, procurava um novo serviço para a idosa. Nenhum orçamento,
porém, saiu por menos de R$ 2 mil mensais, valor incompatível com a renda da
família. A solução veio num espaço a poucas quadras de casa, na Abolição, Zona
Norte do Rio. Desde dezembro, a pensionista Ithamar Stain da Silva, de 81 anos,
faz acompanhamento ortopédico na Policlínica Saúde Já.
— Tentamos clínicas da família, mas demorava para atender e
encaminhar para qualquer especialidade era um drama. Agora, marcamos por
WhatsApp e é sempre ágil — conta Eliane.
Na policlínica, Ithamar virou beneficiária de um cartão de
descontos, ainda em fase experimental. Ela pagou R$ 720 por um pacote anual, em
que parte dos exames é gratuita e cada consulta sai por R$ 10 ou R$ 15,
dependendo da especialidade — o preço normal na unidade varia de R$ 69 a R$ 89.
Estimativas do setor apontam que já são mais de cem as
clínicas com esse perfil na Região Metropolitana do Rio, em um crescimento
impulsionado pela crise econômica e também pelo caos na saúde pública. Além da
marcação de consultas via redes sociais, muitos estabelecimentos ficam em
shoppings ou até grandes supermercados, em especial nos bairros do subúrbio,
tudo para facilitar a vida do paciente (e dos médicos).
— O shopping oferece bastante conveniência para todos, em
vários aspectos. Mas a gente escolhe de acordo com o perfil do frequentador.
Não vamos montar um espaço no Village Mall — explica Paulo Granato, CEO da rede
Policlínicas Granato, que tem quatro de suas sete unidades no Grande Rio
localizadas em shoppings.
‘Numa emergência, é preciso ir à rede
pública’
Na verdade, eu até poderia pagar um plano de saúde. Fiz a
cotação e, para a minha idade, com uma cobertura boa, ficaria a pelo menos R$
550. Em 12 meses, se você multiplicar, dá mais de R$ 6 mil. Acho um absurdo
pagar isso tudo para fazer algumas consultas ao longo do ano, então optei por
acompanhamentos numa clínica popular. A desvantagem, claro, é que, sem o plano
de saúde, se você tiver uma emergência, precisa ir à rede pública. Não tem
jeito.
RAFAELLA SIQUEIRA Assessora parlamentar, de 30 anos
Operadoras: menos 1 cliente a cada 3
minutos
Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, que
fiscaliza o setor, apontam que, entre outubro do ano passado e o mesmo mês em
2016, 188 mil pessoas abandonaram seus planos de saúde no estado do Rio. É como
se um cliente deixasse o serviço a cada três minutos, seja por demissão e perda
do pacote corporativo ou por opção financeira.
Uma das saídas, para quem não quer depender do setor
público, são justamente as clínicas populares. A diferença de preço para
grandes laboratórios em exames simples, como o de urina (EAS), chega a 80% — de
R$ 20 para R$ 4. Um eletrocardiograma, procedimento mais complexo, também pode
ser feitos com economia superior a 70% (o valor médio em estabelecimentos
tradicionais gira em torno de R$ 150, contra até R$ 40 em unidades de baixo
custo).
— A gente pega uma contramão da crise. Hoje, somando nossas
seis unidades, fazemos sete mil atendimentos mensais, entre consultas e exames.
A meta é abrir 20 novos espaços este ano (três serão inaugurados até março, um
em Niterói e dois em São Gonçalo) — afirma Guilherme Aranha, sócio-fundador do
Centro Médico Pastore.
O Conselho Regional de Medicina do
Rio (Cremerj), contudo, vê com ressalvas a expansão do setor. A
orientação da entidade é checar se o espaço é cadastrado no órgão e se conta
com um diretor-médico responsável, como determina a legislação.
Além disso, é preciso frisar que esse tipo de serviço não
substitui o SUS. Um caso cirúrgico ou exames mais sofisticados e caros ainda
dependerão do setor público — diz Nelson Nahon, presidente do Cremerj.