Na Mídia - Rotina de tensão nas UPAs
O Dia /
19/10/2017
Vídeos mostram bandidos armados na unidade Maré e
confusão entre médica e PMs na de Cabuçu
'Vivemos no fio da navalha’ .O desbafo de um funcionário da UPA Cabuçu, em Nova Iguaçu, expõe como vivem os profissionais da saúde no estado diante da violência. Em 48 horas dois casos chamaram a atenção para a rotina de médicos,enfermeiros e auxiliares em unidades de saúde. Após um clínico-geral ser sequestrado, no domingo,por bandidos armados de dentro da UPA da Maré para levar um suspeito baleado até uma clínica possivelmente clandestina, na madrugada desta terça, uma médica da unidade de Cabuçu disse, em depoimento, que quase levou um soco de um PM ao recusar aentrada de três homens baleados, que já estavam mortos. Os policiais a levaram para a delegacia por desacato e acusam a profissional de têlos agredido.Ontem, a Polícia Civil divulgou as imagens das câmeras da UPA Maré que gravaram a entrada de bandidos armados no local, na madrugada de domingo. Durante uma hora e meia, sete homens, alguns armados com fuzis, socorrem um comparsa ferido, baleado momentos antes em confronto com policiais na Linha Amarela. As imagens mostram que os funcionários da unidade de saúde continuam a trabalhar apesar do vai e vém de bandidos armados. Segundo depoimento do motorista da ambulância levada pelos criminosos, cerca de 50 traficantes estavam na porta da unidade. O delegado Wellington Vieira, da 21ªDP (Bonsucesso), diz que o medo vivido pelos profissionais de saúde explica o motivo de ninguém ter chamado a polícia. Isso possibilitou que traficantes circulassem por 111 km, da Maré à Baixada e, horas depois, de volta à Maré, sem serem importunados. O médico foi sequestrado para seguir na ambulância e depois levado de volta ao local em outro veículo pelos criminosos. Jorge Darze, presidente da Federação Nacional dos Médicos, afirma que a violência contra o corpo médico aumentou. Uma médica que trabalha ememergência pública confirma e conta que já recebeu até um corpo com uma granada no bolso. “É comum recebermos baleados já mortos nos hospitais levados por policiais. A gente só faz atestar o óbito eencaminhar pro IML. Éo que dá para fazer.Na clínica, uma vez, um traficante entrou na minha sala enquanto eu estava numa consulta porque queria ser atendido, mas disse para ele esperar e ele acabou entendendo”.No episódio de terça-feira,na UPA de Cabuçu, um vídeo, publicado no DIA Online, mostra um PM alterado indo de encontro à médica, enquanto outras pessoas tentam contê-lo. O outro policial aparenta estar mais calmo e tenta controlar a situação.
Profissional acabaautuada por desacato a policiais
A médica da UPA de Cabuçu acabou autuada por desacato, segundo a Polícia Civil. Um dos policiais contou na delegacia ter levado uma “unhada” no rosto e o outro PM afirmou estar com marcas dearranhões nos braços e recebeu atendimento hospitalar.Os policiais contaram, no depoimento, que a profissional da UPAestava muito exaltada e que os chamou de “animais”,quando então deram voz de prisão a ela. A clínica-geral diz, no entanto, que um dos PMs tentou dar um soco nela após o início do tumulto causado pela insistência dos policiais em deixar os três corpos na unidade.Os militares contaram que socorreram os três baleados após uma troca de tiros “pois eles ainda respiravam” e, perante a recusada médica em receber os feridos, pediram sua identificação, quando teve início o tumulto. O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj), NelsonNahon, criticou a postura dos policiais eque ocorreu uma agressão absurda à médica durante o plantão na UPA. “Eles já estavam mortos e, em casos de morte violenta,a médica não pode de jeito nenhum dar um atestado de óbito. Ocorpo tem que ser encaminhado para o IML para ser feita a necrópsia e atestar qual a causa da morte”,explicou. Ele lamentou os recentes episódios violentos envolvendo profissionais de saúde.
Suspeito é investigado desde 2012
Renan Campos, 41, é o homem apontado pela polícia como o
que foi socorrido por traficantes naUPA Maré no domingo. O delegado Wellington
Vieira o descreveu como “estourado,nervoso, mas meticuloso”.Renan, conhecido
como RN,não possui anotação criminal, mas é investigado pela polícia desde
2012, quando teria participado de uma troca de tiros na Linha Ve rmelha. Na
delegacia, em um álbum com fotografias de pessoas que teriam ligação com o
tráfico do Complexo da Maré, constam fotos de Renan encontradas no celular de
um preso. Nelas, ele aparece segurando
um fuzil. Segundo Vieira,a investigação aponta que RN seria o sucessor
de Marcelo Santos das Dores, o Menor P , presoem 2014.Mas,por ter um perfil
inconstante, foi preterido para o cargo. O escolhido foi Thiago Folly.“Ele tem
essa uma influência de liderança no tráfico. Os traficantes não iriam fazer o que
fizeram por um zé ninguém” , apontou. Segundo a polícia, RN passou por uma
cirurgia na Baixada e foi levado de volta para a Baixa do Sapateiro. Vieira
recebeu informações de que ele está muito debilitado.”- Falei com o advogado da
quadrilha. O RNpode ir a um hospital público procurar ajuda”,disse.Ainda de
acordo com o delegado, RN poderá ser indiciado pela troca de tiros com os
policiais. Como estava inconsciente, não responderá pelo sequestro da
ambulância e do médico.