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Na Mídia - Crise na saúde vira caso de polícia

Extra /

27/06/2017


Paciente se envolve em caso de agressão. No mesmo dia, outro doente morre sem médico

A crise no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) virou caso de polícia, ontem de manhã. Um bate-boca entre um paciente e uma enfermeira, por causa da demora no atendimento devido à falta de médicos, acabou na 21ª DP (Bonsucesso). O setor, que passou o dia com atendimento restrito a casos graves, tinha só uma pediatra de plantão. E o clínico do plantão geral, responsável por cerca de 300 pacientes internados nas enfermarias, era chamado a cada caso urgente. Mas para o paciente Hélio de Lima, de 78 anos, não houve tempo hábil.

Ele foi internado no CTI da emergência, domingo. De manhã, a enfermagem relatou no prontuário que ele teve parada cardiorrespiratória. O único clínico do plantão socorria um paciente que chegara pela sala vermelha e, quando conseguiu chegar ao leito de Hélio, era tarde: às 9h10, apenas atestou a morte. Na madrugada da segundafeira passada, a paciente Maria Elizete Vanderley da Silva, de 77 anos, também morreu sem socorro médico e teve o óbito atestado oito horas depois.

Na escala de plantão enviada pelo HFB ao Ministério da Saúde, constam dois clínicos que estão de licença médica. Uma terceira médica pediu exoneração na semana passada. O intensivista, que atende pacientes do CTI da emergência, não foi ao plantão. E o quinto escalado é o clínico do plantão geral, responsável pelas enfermarias que ficam num prédio em frente à emergência.

Suando frio e com dificuldades de respirar, o ambulante Deivison Ferreira, de 28 anos, morador da favela Nova Holanda, na Maré, diz que chegou ao HFB, por volta das 5h30, e foi informado que só haveria médico às 16h. Depois de implorar ajuda, apareceu, às 8h um cardiologista para atendê-lo. Após passar medicação e deixar Deivison no soro, o médico voltou para sua atividade oficial, de assistente de direção.

Deivison, após mais de uma hora esperando o médico, foi procurar, com o soro no braço, informações sobre seu caso. O ambulante encontrou uma enfermeira que acabara de chegar e foi informado que ele não poderia andar pelo hospital com os medicamentos. O paciente e a profissional tiveram um bate-boca e, alterado, ele jogou material na profissional, que teve a roupa manchada de sangue. Ela chamou os seguranças e os dois foram parar na delegacia. Ele admite a discussão, mas nega agressão física.

Sensação de abandono

O Conselho Regional de Medicina do Rio, em nota, lamentou o episódio e repudiou “o sucateamento das unidades federais de saúde por parte do Ministério da Saúde, que tem reduzido o número de médicos e outros profissionais de saúde, diminuindo a assistência à população”. O ambulante se justificou a situação da unidade:

— Como cidadão que pago impostos, a sensação é de abandono e desprezo pelo ser humano. Só queria ser atendido.

A enfermeira não quis comentar e temia, por ter sido ameaçada por parentes do paciente. A direção do HFB repudiou a agressão, disse apurar o ocorrido e que ampliou o controle da assiduidade dos servidores. Sobre o caso do paciente Hélio, afirmou que estava com câncer em estágio avançado e recebendo tratamento.